para a paz


O cinema português tem feito pouco, muito pouco, por merecer o público. E o pior é que parece - parece mesmo - não se importar o que quer que seja com isso. Estamos a falar, muito provavelmente, do único país do mundo onde todos os cineastas são "auters" ou estão, pelos menos, piamente convencidos disso. Todos são alternativos, mas, quando não há nada a que se oferecer como alternativa, quem se aventure à comercialidade é que está, na verdade, a fazer diferente, a arriscar, a agir contra a corrente.
Porque o absurdo não tem limites, em Portugal não se filma para Portugal, não se filma como se estivesse em Portugal, não se filma para os portugueses. Em Portugal, filma-se como reacção ao cinema americano. Em Portugal, filma-se como se estivesse em França. Em Portugal, filma-se para se ter um convite para um subconcurso de um grande festival de cinema europeu. Em Portugal, é claro, filma-se porque se foi subsidiado - despacha-se o filme e vive-se dos rendimentos.
O público acaba por cometer erros, é evidente. O público, desgostoso, deixa, muitas vezes, passar excelentes filmes que, aqui e ali, se fazem por meritórios portugueses pouco dispostos a fazer como o rebanho, mas que pagam pelo seu pecado.
O público português não vai ver o seu cinema porque ele não é seu, não foi feito para ele. É muito simples.
Mas o público consegue, por vezes - tem havido provas disso -, reconhecer e premiar o bom trabalho. E, se esta for uma dessas vezes, o público verá Alice e saberá perceber aqui o mérito, o talento, a humildade e a beleza de uma pequena pérola de todo o cinema visto por cá em 2005. Um filme que é muitas coisas, mas de onde três sobressaem: o rosto omnipresente de Nuno Lopes; a Lisboa fria e maior que si mesma; o contorno do espaço deixado vago pelo desaparecimento de uma filha.
Belo.
Alexandre Borges

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