Loving the underdog, thy best friend



Regresso de férias mesmo a tempo de me alistar no combate por Nick Nolte. Estou do lado do Bem, contra o lado do Mal, como é evidente. Isto dito, é bom saber que o Alexandre está com o joelho avariado, pois assim vai ser mais fácil para os tipos a quem encomendei a sova.

Nick Nolte. Logo o nome diz tudo. Um nome rápido, como quem acende um interruptor ou carrega uma espingarda de canos serrados. Old Nick, por padroeiro, sem dúvida, Nick Nolte encarna o underdog, por excelência, um vencido da vida, logo no início dela. No entanto, é já mais velho que mostra todo o seu talento. Ou natureza, que é o mesmo.

A lista de filmes em que Nick Nolte interpreta um pobre diabo, decadente, arrasado, marginal é extensa. Aliás, conto-vos um segredo, é a lista toda. Nolte mesmo quando não o é, é. Como em Cape Fear. Mas eu só quero falar de um filme. Vou deixar de lado os Hulks deste mundo, as Thins Red Lines, os Hoteis Rwanda ou os Princes of Tides.

Eu quero falar-vos de The Good Thief, de Neil Jordan. Sim, o tal filme em que entra Emir Kusturica e a assombrosa Nutsa Kukhianidze, de Tbilisi, bless her heart. Onde andas miúda? Nick Nolte contava aí com 61 anos. E este é um filme menor. Or so you'll say. Mas não é. É simbólico, é exemplar.

Este é um filme em que Nolte vem para a Europa, literalmente. Ele está, portanto, no continente da decadência, aquele em que melhor lhe assenta a sua natureza. Como já escreveu o Rui, Nolte é the real thing. Ele tem quase sempre um ar cansado e pouca paciência - a indicar um desprezo pelos que não perceberam ainda os meandros mesquinhos da vida. Ele, evidentemente, já percebeu. Mas algures entre as drogas, o álcool, o sexo e os filhos da puta (pardon my french) que o tentam lixar, ele acaba por fazer a coisa certa. Ou pelo menos tentar. E é nesta tentativa, mais do que no sucesso, que reside toda a essência de Nick Nolte. Ele vai fazendo pela vida. E quase sempre Bem.

Como bom ladrão Nick quer roubar, claro, mas por boas razões. Ela já passou por muito, tem de aturar perigosos meliantes como Tony Angel (Ralph Fiennes), salvar Anne da vida e tentar ser feliz (ou rico, pelo menos). Tornar isto convincente não é fácil mas old Nick consegue-o. E porquê? Porque Nick Nolte tem aquele travo vivido e resistente que apetece ter lá por casa a beber o nosso melhor whisky e a ouvir falar de mirabolantes histórias no triângulo dourado. Nós sabemos que com ele haverá muitos turns and twists até ao ending final. Ele é, numa magnífica contribuição lexical britânica, resiliant.

Acho que já quase todos descobrimos que anunciar alguém como acabado é quase sempre exagerar as notícias de uma morte.
Domingos Miguel

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