filmes que se tomam, filmes que se põem a tocar


Parece-me que só existem três formas de ir ao cinema (qualquer uma contém muitos dos 20 usos elencados antes): no nível 1, vai-se ao cinema como quem vai tomar um copo, jantar fora ou passear - é só para não estar em casa, faz parte do programa, tipo algodão doce, pipocas, setas, snooker, cervejola, bifinho; no nível 3, vai-se ao cinema por interesses muito específicos, para assistir àquele filme, que é daquele realizador, em que entra aquele actor (nos casos mais crónicos, porque é aquele director de fotografia, aquele argumentista, aquele actor secundário).
No nível 2, o intermédio em matéria de critério, vai-se ao cinema ver um género. São os filmes que se tomam como quem toma um remédio, uma aspirina, um relaxante, um excitante, um fármaco qualquer, uma droga para a ocasião. Ou que se põe a tocar como quem coloca na aparelhagem um disquinho alegre, uma coisa intimista, uma que puxe para cima, outra que leve para baixo, uma só para o ambiente, outra para adormecer, aqueloutra para acordar.
Creio que todos os tipos de espectadores passam e regressam a esta fase, periodicamente. Porque cumpre uma das grandes missões do cinema, muito embora não aquela a que, decerto, almejam os autores. Há dias para a comédia romântica; dias para o filmaço de acção; dias para a coisa lírica e poética; dias para o belo thriller; dias para a comédia desconchavada; dias para o dramalhaço pesadão.
Há uma dose anual recomendada por cada estilo e uma adequação a cada paciente. Só é necessário que o espectador se conheça bem para não pecar nem por excesso nem por defeito.
Este espectador, nos dias que correm, andava a precisar de uma comediazinha romântica. Tomou um Must Love Dogs e não ficou mal. Poderia ser um bocadinho mais forte, mas assim também não causa efeitos secundários assinaláveis.
Amanhã, em todo o caso, falaremos melhor do assunto.
AB

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