Nick, o Nolte

«Ouve lá, então o Alexandre Borges teve o topete de escrever um post a dizer mal do Nick Nolte…? Ai o caralho», pensei eu ao ler o post aqui em baixo do Alexandre a dizer mal do Nick Nolte. Ai-iai-iai, ai, ai, de facto.
Nick Nolte está para ser mau actor como Gary Busey está para Nick Nolte. Logo, um mau actor seria igual a Nick Nolte ao quadrado a dividr por Gary Busey. Não estou lá muito seguro do que isto signifique, porém. Aproximação e taluda. Tentemos outra. Nick Nolte é tão bom actor como não acertar nenhum resultado no Totobola é bom. É que, dantes, não acertar em nenhum resultado no Totobola dava direito a primeiro prémio. É algo de difícil, de específico, que requer estudo e organização.
Eu diria, citando Monty Clift, que Nolte não é para meninos. Querem um cromo de rebeldia? Steve McQueen, está bem, pronto. Mas logo a seguir vem Nick Nolte. Nolte é the real thing, o original maverick. Ou se calhar, apenas, um really drunk wino. Quando vemos Nolte a representar temos uma noção imediata de peso. Parece que estamos numa aula de teoria da relatividade, no ponto em que se explica que as trajectórias dos corpos celestes no espaço são linhas rectas percorridas num espaço deformado pelo peso da gravidade e tornado, por isso, curvo. Nolte parece que anda às voltas, pode até parecer que está bêbado, mas não: ele vai a direito num espaço encurvado pela sua formidável gravitas. Claro que fez grandes merdas, mas, como uma vez explicou Vasco Pulido Valente, não é fácil fazer uma bela merda porque até a merda tem a sua consistência própria. Muitas vezes tentada, poucas vezes atingida.
Querem cobrar uma dívida incobrável? Nick Nolte. Querem derrotar um assassino psicótico, mesmo usando um corte de cabelo ridículo? Nick Nolte. Querem meter Eddie Murphy na ordem com um simples olhar? Nick Nolte. Querem ganhar a batalha de Guadalcanal e ao mesmo tempo ler Schopenhauer? Nick Nolte. Querem ter, enfim, meia-idade e ser um pintor (se calhar não querem), e namorar com a Rosanna Arquette (se calhar já querem), e só ouvir, obssessivamente, o «Whiter Shade of Pale» e o «Like a Rolling Stone»? Nick Nolte.
Alexandre, tenho três argumentos: «Cape Fear» (a propósito de Robert Mitchum, Nolte seria o único a fazer bem um remake the «The Night of the Hunter»), «The Thin Red Line» e «Life Lessons» (em «New York Stories»), e uma confissão a fazer: Nick Nolte é o gajo de quem eu gostaria de ser o sidekick.
Rui Branco

Comentários

Barreira Invisível Podcast