all by mysee-eeeeellllfff


Caros amigos, consegui (ou, numa linguagem potencialmente mais iconográfica do nosso tempo: "Ladies and gentlemen, we got him."). O filme, a experiência, o luxo. Foi ontem mesmo, à noite, sessão das 00h30, Saldanha Residence, sala 6. O senhor projeccionista (partindo do pressuposto de que estava, de facto, alguém na cabine) pôs a fita a rolar só para mim. Red Eye, meus senhores, Red Eye. Se quiserem tentar a vossa sorte, aqui está uma oportunidade rara: é comprar o bilhetinho para uma sessão tardia do filme de Wes Craven e cruzar os dedos.
Bom, mas vamos do princípio.
Há muito que o perseguia. Já tinha conseguido assistir a Aparelho Voador A Baixa Altitude, de Solveig Nordlund, apenas com um jovem casal na plateia do Quarteto; já tinha sido cilindrado pelo Princípio da Incerteza, de Manoel de Oliveira, no King, com somente mais uma senhora de meia-idade. Já tinha estado, em diversas projecções, na iminência da conquista, mas, à última hora, lá chegava sempre um grupo de três ou quatro amigos.
Foi desta. Ou pelo menos, assim pareceu. Explico-me: chego às 00h31 à sala. Não há um só funcionário para conferir o bilhete e conduzir-me ao lugar correspondente (esta é outra dica importante: só no Monumental, isso já me aconteceu uma boa meia dúzia de vezes. Infelizmente, tinha sempre bilhete e, agora, com o famoso King Card, não há motivo para o não ter; no entanto, para os não-filiados, é aproveitar. Perdem-se os primeiros cinco minutos, mas ganham-se 5 euros. Sem pudor. Eles merecem. Alguém lhes paga para lá estarem e não estão. Azareco...). Ok. Abro a porta e entro sozinho. Na escuridão, quase garanto ter avistado uma ou duas cabecinhas. Vou, como sempre, para uma das primeiras filas. Poucos minutos depois, oiço a porta abrir-se. Ainda penso que é o desgraçado moço dos bilhetes, de regresso da sua inadiável ida à casa de banho, que vem em minha perseguição. Mas não. Ninguém vem junto a mim. Bom, chegou, então, algum espectador retardatário. Tudo bem. O filme segue. Rio-me em vários momentos, sem acompanhamento. A acção termina, entram os créditos, as luzes da sala não se acendem, a porta não se abre. Permaneço sentado. Devem ter gostado mesmo do filme, ocorre-me - ainda ninguém saiu e, ainda por cima, são já duas da manhã. Quando me levanto, a glória - a salinha deserta. Ninguém. Toda minha.
Terão os senhores que me parecera ver saído ao fim de poucos minutos, quando ouvi aquele abrir de porta? Ou terá sido uma ilusão óptica inicial e nunca ali esteve, afinal, quem quer que fosse?
Who cares? O que importa é que um cinema se tornou, finalmente, na minha faustosa sala de estar.
Quanto ao filme, o mínimo que se pode dizer é que foi injustiçado. Bom, enxuto, certinho, empolgante. Uma hora e meia de bom suspense conduzido por uma dupla de actores desconhecidos até há bem pouco entre nós: o extraordinário Cillian Murphy ('as seen on' Batman Begins) e uma boa Rachel McAdams ('seen on' Wedding Crashers). Oportunidade ainda para Brian Cox fazer uma perninha - sem grande interesse - e rever Jack Scalia (sim, não vai ser preciso comprar aquele DVD do Tequila & Bonetti).
Alexandre Borges

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