ódios de estimação II

Como explicitado anteriormente, debaixo desta categoria não cabem, propriamente, os maus actores ou directores ou afins, mas aqueles que nos mexem, de modo inexplicável, com os nervos, à sua simples aparição. Um pouco como o amor, mas com o efeito contrário. E, também como o amor, o ódio de estimação não funciona em equipa - é, antes, uma coisa adorável e terrivelmente individual.
O ódio de hoje não é - já o sei de antemão, desde que a vasta equipa do Noite Americana se encontrou numa das suas últimas reuniões magnas, nos seus luxuosos escritórios, algures em frente a meia dúzia de Sagres Bohemias - pois, uma coisa pacífica. Para toda uma ala desta trupe, Nick Nolte é um tipo bastante aceitável, talvez, até, um actor muito interessante. Bom, pessoalmente, nem à chapada me convencem disso (não foi tentado, mas também não é preciso - eu juro!!).
De 48 Hours a Hulk, passando por Cape Fear ou The Thin Red Line, 'you name it' - o homem acha que só consegue ser convincente se berrar como se não houvesse amanhã. Estridente, histérico, 'overactor', o volume de decibéis que evoca a mítica erupção do Krakatoa vem acompanhado de um rosto mais avermelhado que toda a Liza Minelli e mais enrugado que o do Master Yoda. É o oposto do 'cool'. E um actor que, aparentemente, a partir de certa altura, estreitou o seu caminho para um género muito limitado de papéis: irados, rabugentos, violentos, desequilibrados.
Mas é preciso recordar um excelente dia para Nolte, o dia em que se lançou ao papel que Martin Scorsese lhe entregou na primeira das New York Stories, já lá vão 16 anos: um magnífico trabalho como o pintor Lionel Dobie, sereno, equilibrado, subtil, com mistérios por desvendar, em vez de exibir tudo 'in your face', como fizera e faria todas as outras vezes.
E é precisamente por isso que merece ser odiado. Porque mostrou, então, que tinha capacidade para fazer muito mais e melhor.
E Nolte esteve, várias vezes, bem próximo de ser amado. Pena que tenha recusado e/ou sido recusado para papéis como Super-Homem, Han Solo ou Indiana Jones.
Alexandre Borges

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