what's up, doc?

Ainda a propósito de Inside Deep Throat.
Ampliados pelos temas que investigam e pelo mediatismo dos mesmos e/ou dos seus criadores, alguns documentários recentes como este, Farenheit 9/11 e restantes Michael Moore ou Supersize Me, podem criar para o género uma 'movida' de um novo público, mais heterogéneo, habitualmente menos virado para o realentertainement, digamos, para usar uma palavra criada "as we speak". Se o paladino do anti-Bushismo é já um verdadeiro fenómeno de popularidade, os outros dois casos citados também saltam, claramente, para o lado de lá da fronteira e convivem, orgulhosamente, nas grandes salas, ao lado das mais sofisticadas obras de ficção.
Será um sinal de uma pressentida perda da inocência por parte das sociedades contemporâneas, caindo já para além do fascínio diante da mítica magia do cinema? De rostos, palavras, actos e encontros perfeitos?
Por agora, alegro-me com a simples constatação. E desejo que assim seja, para que magníficos 'docs' como Capturing The Friedmans (de Andrew Jarecki, um dos melhores filmes de todo o cartaz do ano passado) não se voltem a perder na ditadura das tabelas de box-office e das estreias semanais.
No que a Inside Deep Throat diz respeito, convém deixar claro que não estamos diante de nenhuma obra-prima, mas não restam grandes dúvidas de que venha a ser, no balanço final da época, um dos seus títulos obrigatórios. Informativo, inteligente e irónico, o filme de Fenton Bailey e Randy Barbato tem a sua maior virtude no tom que escolhe para contar toda a história: longe, muito longe, de qualquer juízo moral sobre os acontecimentos, parece contentar-se com a observação divertida e, simultaneamente, desiludida da sequência de factos, olhados com o distanciamento a que o tempo obriga. Como viajámos de um filme barato, construído por um grupo de gente de fracas convicções e personalidades, a uma macro-indústria, passando pela sobrevivência do cinema; pelo fracasso de uma revolução sexual e, sobretudo, social; pela queda de Nixon; pela ligação, mais estreita do que, provavelmente, se pensa, entre as mais célebres "gargantas fundas" de sempre; pelo conceito de 'porno-chic' (inventado, afinal, em 72, pelo jornalista Ralph Blumenthal; pela moral e sonhos americanos.
Enfim. Se déssemos estrelas, seriam quatro.
Alexandre Borges

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