A voz

Deus não só não está morto, ao invés do que supunha Luiz Pacheco quando estanciava por Massamá, como é preto e está gordo. Falo de James Earl Jones, a voz. A voz do Rei Leão, por exemplo. A voz, sobretudo, de Darth Vader. De forma não muito diferente dos desenhos animados, a substância da representação de Vader passa pelo comando da voz, seus uso, volume, timbre, brusquidão ou esgar. Aquilo que faz com que Darth Vader não se limite a um tin man ridículo andando de um lado para o outro a dar ordens com um tubo de néon na mão que de vez em quando agita freneticamente, aquilo que serve de cabide ao personagem e lhe dá peso, é a voz, e a voz é de James Earl Jones. Se James Earl Jones pudesse falar no sistema de som da Lua, os objectos voltariam a cair com gravidade, como na Terra.
Se se tivesse limitado a dar a voz a lord Vader, já teria ficado na memória colectiva do Ocidente – ou pelo menos na minha. Mas não. Sucede que entrou num vilipendiado filme realizado por John Milius, com guião do mesmo Milius e de Oliver Stone, no qual contracenou (faz de Tulsa Doom, o mau-da-fita) com Arnold Schwartzenegger, Max von Sydow e a bela mas olvidável Sandahl Bergman. Sobre «Conan The Barbarian» a Time Out escreveu: «Match verdict: no goals, slow build-up, but much absorbing action off the ball». Discordo, não necessariamente porque não concorde, mas porque me diverti imenso a ver o filme (ao contrário do autor da frase). Novamente, como com Vader, é a voz de Jones que lima o excesso de ridículo das coisas que vão passando no écran, penso em Schwartzenegger, e lhes dá peso. É a voz de Jones no écran, como a voz de Deus fora dele, que sustenta a suspension of disbelief - e isso é tudo, tanto para um, como para o outro tipo de crente.
Rui Branco

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