Bond Girl
Talvez o James Bond seja das poucas coisas do mundo que não seja susceptível de melhorar com análise. O pior que lhe poderão fazer é deitá-lo – num divan. Não, obviamente, por falta de tracção psicanalítica, mas pela mesma razão por que eu não quero verdadeiramente saber como é que funciona o micro-ondas. Só porque as coisas se podem fazer, não quer por isso dizer que se façam. Sobretudo à cabeça: penteados e psicanálise. O equivalente psicanalítico de um «bad hair day» chama-se ter uma personalidade. Um «Analyse This» mataria o Bond mais depressa que a cryptonite ao Super Homem. E às vezes um charuto é só um charuto. Pois, pois. Deixo portanto isso de fora. O que significa que deixarei possivelmente a resposta de fora. Dando outra, procurando outra, estarei eu próprio a deitar-me no divan. O costume para qualquer.
Eu diria que o que faz a boa bond girl não é, com se poderia pensar, o facto alternativamente exclusivo de ela ser boa – boa boa ou boa actriz. No outro dia o Domingos disse-me que a sua bond girl favorita era, como lhe parecia óbvio, a Carole Bouquet. Que tinha outra classe. Classe: ora aí está algo que não me parece de todo pertinente. A Grace Kelly não daria uma boa bond girl. Como a Ursula Andress não daria uma boa rainha do Mónaco. Vamos por partes. Uma bond girl não pode ser feia: adeusinho Michelle Yeoh. Uma bond girl não pode ser quaint: adeusinho Mrs. Moneypenny. A bond girl tem que ter algo que James Bond queira: inocência, o código de lançamento (ou saiba quem tem), redenção em apneia, uma drageia de cicuta, o amor do vilão, um cigarro já aceso, as pernas de Cyd Charisse, um sotaque de conhaque, um homicídio na forma tentada. Mas não basta. É depois preciso que ela não deseje, ou não deseje logo – mas apenas alguns takes antes do fim –, salvar James, o mundo e um ou dois gatos. É preciso que ela, ainda que despindo-se com regularidade, não tenha frio, nem filhos. Seja uma «M» com minúscula e músculo. Sensual malícia. Uma bond girl nunca poderá ser demasiado esperta, ou não poderia jamais ser tão gira. E é esse o problema do Daniel Craig: não se está a ver a bond girl com um ar mais palerma do que ele. Porque o Daniel Craig tem aquele ar de quem estava muito bem num estúdio, passou sem querer de um set para outro e de repente pára e olha e diz «han?»
RB
Eu diria que o que faz a boa bond girl não é, com se poderia pensar, o facto alternativamente exclusivo de ela ser boa – boa boa ou boa actriz. No outro dia o Domingos disse-me que a sua bond girl favorita era, como lhe parecia óbvio, a Carole Bouquet. Que tinha outra classe. Classe: ora aí está algo que não me parece de todo pertinente. A Grace Kelly não daria uma boa bond girl. Como a Ursula Andress não daria uma boa rainha do Mónaco. Vamos por partes. Uma bond girl não pode ser feia: adeusinho Michelle Yeoh. Uma bond girl não pode ser quaint: adeusinho Mrs. Moneypenny. A bond girl tem que ter algo que James Bond queira: inocência, o código de lançamento (ou saiba quem tem), redenção em apneia, uma drageia de cicuta, o amor do vilão, um cigarro já aceso, as pernas de Cyd Charisse, um sotaque de conhaque, um homicídio na forma tentada. Mas não basta. É depois preciso que ela não deseje, ou não deseje logo – mas apenas alguns takes antes do fim –, salvar James, o mundo e um ou dois gatos. É preciso que ela, ainda que despindo-se com regularidade, não tenha frio, nem filhos. Seja uma «M» com minúscula e músculo. Sensual malícia. Uma bond girl nunca poderá ser demasiado esperta, ou não poderia jamais ser tão gira. E é esse o problema do Daniel Craig: não se está a ver a bond girl com um ar mais palerma do que ele. Porque o Daniel Craig tem aquele ar de quem estava muito bem num estúdio, passou sem querer de um set para outro e de repente pára e olha e diz «han?»
RB
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