Uma colheita especial
Fui ver o último filme de Ridley Scott, com Russell Crowe. Sou fã de ambos e iria ver o filme mesmo que fosse um remake de Jerry, do Gus Van Sant (filme de que, aliás, gostei).
Este filme é tão previsivelmente atacável quanto previsivelmente previsível que dele se dirá, nesses ataques, que ficou aquém disto e daquilo, é patético, tem clichés a mais, Provença a mais, cinema a menos. Enfim, the usual. Se querem a minha opinião, e eu sei que querem, são tudo traumatizados de guerra que nunca conseguiram perdoar a Ridley Scott não ter voltado a fazer Blade Runners. Mas, quer dizer, não é preciso ser um génio, para perceber que um tipo que faz o primeiro Alien, Blade Runner, Black Rain (grande filme, já agora), Thelma and Louise, Gladiator e Black Hawk Down, só para dar alguns exemplos, não está propriamente preocupado com a consistência. O homem é um experimentalista, é o que é. Daí que A good year é apenas uma filme em que dois amigos resolvem fazer umas palhaçada. Embora, admitamo-lo umas palhaças em grande. A verdade é que nem todos somos Pedros Costas. Há que lidar com isso.
Para mim é estupidamente fácil defender este filme só com base em razões emocionais. Eu também tenho um (tio-)avô que produz vinho e o ama mais que muita coisa nesta vida, eu também gosto muito de cachimbar (sobretudo no tempo frio), eu também considero os fatos azuis como o auge da distinção. E, sim, eu também tenho um daqueles estranhos pullovers de cricket, embora com mangas (não perguntem). Além disso, chamem-me estúpido, eu também acho muita piada à Marion Cotillard.
Dito isto o filme não tem ponta por onde se lhe pegue se estiverem à procura de uma abordagem pós-nouvelle vague da dilacerante questão do confronto entre o capitalismo de sucesso, que nos torna a todos frios e cínicos vagabundos da alma, embora com óptimos apartamentos, carros e louras de 2 metros. Além disso o filme é lamechas, eu estou a falar de lamechice da boa, na linha das compotas caseiras da avó Maria. E, como se sabe, isso não tem lugar no cinema que pretendemos para nós e para os nossos filhos. Outra crítica à qual me junto é que há Provença a mais no filme. Deveria haver Provença a menos, ou melhor, Provença menor, mostrarem as barracas, os pobres, enfim, a verdadeira Provença. O filme assemelha-se a uma tentativa de fazer um filme sobre Byron e não mostrar as barracas do Concelho de Sintra. Chocante.
A Good Year é um filme que não deixa marca a não ser a quem tenha empatia com alguns dos pontos nevrálgicos do filme. É preciso, provavelmente, ter uma casa de família para onde as nossas memórias por vezes deambulem, é preciso ter empregos associados ao grande capital e ter, pelo menos, entrevisto essa vida, é preciso conhecer a Provença, ou pelo menos o Alentejo ou a Estremadura, é preciso gostar de vinho como da própria vida. Enfim, uma série de coisas que permitem que se deixe de querer ver este filme pelo filtro da História do Cinema e do Cahiers e do diabo e se passa a vê-lo como um bom entretenimento que é. Mas com bónus: Russell Crowe com uma prestação excêntrica e bizarra que nos deixa sempre desconcertados (Lance Armstrong!! - previsível mas nem por isso menos engraçado) e há uma pleiâde de actrizes e actores secundários em papéis deliciosos. Não sendo um Barca Velha é, pelo menos, um Casa Ferreirinha.
DM
Este filme é tão previsivelmente atacável quanto previsivelmente previsível que dele se dirá, nesses ataques, que ficou aquém disto e daquilo, é patético, tem clichés a mais, Provença a mais, cinema a menos. Enfim, the usual. Se querem a minha opinião, e eu sei que querem, são tudo traumatizados de guerra que nunca conseguiram perdoar a Ridley Scott não ter voltado a fazer Blade Runners. Mas, quer dizer, não é preciso ser um génio, para perceber que um tipo que faz o primeiro Alien, Blade Runner, Black Rain (grande filme, já agora), Thelma and Louise, Gladiator e Black Hawk Down, só para dar alguns exemplos, não está propriamente preocupado com a consistência. O homem é um experimentalista, é o que é. Daí que A good year é apenas uma filme em que dois amigos resolvem fazer umas palhaçada. Embora, admitamo-lo umas palhaças em grande. A verdade é que nem todos somos Pedros Costas. Há que lidar com isso.
Para mim é estupidamente fácil defender este filme só com base em razões emocionais. Eu também tenho um (tio-)avô que produz vinho e o ama mais que muita coisa nesta vida, eu também gosto muito de cachimbar (sobretudo no tempo frio), eu também considero os fatos azuis como o auge da distinção. E, sim, eu também tenho um daqueles estranhos pullovers de cricket, embora com mangas (não perguntem). Além disso, chamem-me estúpido, eu também acho muita piada à Marion Cotillard.
Dito isto o filme não tem ponta por onde se lhe pegue se estiverem à procura de uma abordagem pós-nouvelle vague da dilacerante questão do confronto entre o capitalismo de sucesso, que nos torna a todos frios e cínicos vagabundos da alma, embora com óptimos apartamentos, carros e louras de 2 metros. Além disso o filme é lamechas, eu estou a falar de lamechice da boa, na linha das compotas caseiras da avó Maria. E, como se sabe, isso não tem lugar no cinema que pretendemos para nós e para os nossos filhos. Outra crítica à qual me junto é que há Provença a mais no filme. Deveria haver Provença a menos, ou melhor, Provença menor, mostrarem as barracas, os pobres, enfim, a verdadeira Provença. O filme assemelha-se a uma tentativa de fazer um filme sobre Byron e não mostrar as barracas do Concelho de Sintra. Chocante.
A Good Year é um filme que não deixa marca a não ser a quem tenha empatia com alguns dos pontos nevrálgicos do filme. É preciso, provavelmente, ter uma casa de família para onde as nossas memórias por vezes deambulem, é preciso ter empregos associados ao grande capital e ter, pelo menos, entrevisto essa vida, é preciso conhecer a Provença, ou pelo menos o Alentejo ou a Estremadura, é preciso gostar de vinho como da própria vida. Enfim, uma série de coisas que permitem que se deixe de querer ver este filme pelo filtro da História do Cinema e do Cahiers e do diabo e se passa a vê-lo como um bom entretenimento que é. Mas com bónus: Russell Crowe com uma prestação excêntrica e bizarra que nos deixa sempre desconcertados (Lance Armstrong!! - previsível mas nem por isso menos engraçado) e há uma pleiâde de actrizes e actores secundários em papéis deliciosos. Não sendo um Barca Velha é, pelo menos, um Casa Ferreirinha.
DM
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