Breves notas sobre Odete (afinal...)

1. Desde a Glória de Manuela Viegas que não via um filme português tão mau.*

2. No entanto, para além de escatológico, macabro, sinistro e tétrico (é verdade que algumas destas palavras são quase sinónimos mas eu lembrei-me realmente de todas elas durante o filme e faço aqui tributo a isso) a Odete merece alguns breves comentários

3. Passaste-te Teresa [Madruga] ?????

4. A Teresa Madruga é uma grande actriz - é mesmo uma actriz do caraças! - e mesmo que não fosse as vozes em séries infantis da minha infância, mormente, nos Animais da Floresta, ou lá como se chamavam (haviam umas martas, uma raposa, uma coruja...era demais, deviam passar isso de novo), bastariam para lhe garantir um lugar no panteão da arte portuguesa.

5. Faltava uma personagem como Odete no cinema português: uma mulher desequilibrada, disposta a tudo, obsessiva, doentia. Finalmente cá a temos e só por isso Odete tem mérito. Grande Ana Cristina Oliveira (e eu nem sou dos que a acha muita boa (sic) e não sei que mais)

6. Uma palavra também para Carloto Cotta, que além de ter um corpo magnífico (a inveja, senhores, a inveja...) tem igualmente o momento mais memorável do filme quando confrontado com a gravidez histérica de Odete se pira dizendo "Então, se não está grávida, está maluca!"

6. Entretanto, para quando discotecas onde straights também dancem em tronco nu? Isto já acontece? Tenho ido pouco a discotecas, está visto...

7. Definitivamente não me dou com filmes portugueses com nomes de mulher. Já o Francisca me passara ao lado. No entanto, em Espanha a coisa muda de figura, Tristana é um dos meus filmes preferidos.

8. É preciso mais respeito pelos lisboetas. Já tinha reparado nisso no Crime do Padre Amaro, enfim, mas aqui a coisa ainda é mais gritante. É complicado sair a correr de um bar numa perpendicular à rua da Escola Politécnica (perto do Príncipe Real), dar à esquina e aparecer num acidente no Largo de Sta. Bárbara (perto da Almirante Reis). Mas melhor!, entrar no Cemitério do Alto de S. João, percorrer os Prazeres e acordar no Cemitério da Ajuda!...

9. Tenho rapidamente de rever todos os Bressons pois algum me deve ter escapado. For the life of me não consigo perceber onde estão os pontos de contacto entre o realizador francês e João Pedro Rodrigues.

10. Por outro lado, não preciso de ver o Rei das Rosas, para ter a certeza dos pontos de contacto que existem entre Werner Schroeter e o realizador português.

11. Creio que saber muito de cinema e ser voluntarista não garante, por si só, um bom filme, embora garanta que a crítica vai gostar dele, porque vai ver lá o seu filme. Mesmo que ele não esteja lá.

12. Esqueçam isto. Eu não passo de um heterossexual, branco, homofóbico e estúpido que não perceberia de cinema mesmo que a Catherine Deneuve estivesse deitada na sua cama e lhe dissesse: Qu'est-ce que tu en sais, Domingos? (e isto provavelmente até estará mal escrito)

* ao fazer o link para a entrada do Glória no IMDB reparo que pelo menos um cidadão do mundo, tailandês, considera o filme de Manuela Viegas uma obra-prima. Com isto estou definitivamente arrasado.

DM

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