John McClane e a brigada do reumático


Estreias: RED – PERIGOSOS

De: Robert Schwentke

Com: Bruce Willis, Helen Mirren, John Malkovich

Um grupo de agentes da CIA na reforma é, subitamente, chamado de volta à acção. Não é a CIA que os convoca – a CIA é quem os anda a tentar matar e, agora, eles têm de descobrir porquê. Uma boa storyline, um grande elenco. Tinha tudo para dar um bom filme, mas não dá.

Tudo é forçado, a começar pelo título. “RED” é acrónimo de “Retired, Extremely Dangerous”, isto é: “Reformado, Extremamente Perigoso”. A expressão é usada uma vez em todo o filme e logo numa cena que, se não existisse, não faria falta alguma. O original é uma graphic novel da DC Comics que os irmãos Jon e Eric Hoeber, dois argumentistas pouco mais que desconhecidos, insistiram em transformar em comédia. Juntaram ao protagonista Frank Moses um bando de alegados companheiros de armas e abriram espaço para um elenco de vedetas, aumentando consideravelmente o apelo comercial do filme. Os seus méritos ficam por aí e, como o realizador Robert Schwentke também é daqueles que não aquece nem arrefece (“Pânico A Bordo”, “A Mulher Do Viajante No Tempo”), o filme não vai, basicamente, a lado nenhum.

Bruce Willis apresenta-se como Frank Moses, mas, na verdade, quem ali está, mais ruga, menos ruga, é John McClane da série “Die Hard”. Quando descobre que a CIA o anda a tentar matar, deixa a vida do subúrbio, agarra na futura namorada (Mary-Louise Parker, de “Erva”) e vai reunir a velha equipa. Apanha Morgan Freeman num lar, John Malkovich paranóico a viver num bunker e Helen Mirren, algures a fazer arranjos florais.

A missão que têm agora é assaltar o quartel-general da CIA e descobrir por que diabo lhes vieram chatear a reforma. E por que é? Por um motivo confuso, irrelevante e absurdo. Porque, numa alegada operação na Guatemala em 1981, receberam uma ordem qualquer de um senhor que agora é vice-presidente dos EUA e, que se for descoberta, acaba-lhe com os sonhos de se candidatar à Presidência. Não percebeu? Nós também não. Querem matar uns tipos porque eles têm uma informação de que nem sequer se recordam. Tudo bem – não é importante. É só uma desculpa para fazer uma fita com meia dúzia de estrelas e ganhar uns dólares. Missão cumprida: em quatro semanas nos EUA, já facturou mais de 70 milhões.

O único contributo de “RED” para a humanidade é a tentativa bem intencionada de fazer o elogio dos seniores, daqueles que já não estão no activo, mas ainda têm muito para dar. Num universo mediático dominado por adolescentes e feito para adolescentes, não deixa de ser louvável. Contudo, nem desse ponto de vista está isento de erros. Desde logo, achar que Bruce Willis (55 anos) e John Malkovich (57, em breve) são velhos é continuar a olhar com olhos de adolescente. Depois, porque o casting não faz sentido. Mirren tem 65 anos, Freeman 73, isto é, mais 18 que Willis. Não são da mesma geração e não é uma questão de B.I.: olha-se para um e para outro e é óbvio que não são da mesma idade. Para já não falar de Julian McMahon (“Nip/Tuck”), o vice-presidente vilão, que não só tem uns singelos 42 anos como parece, efectivamente, tê-los. Em 81, data do suposto caso da Guatemala, teria 13. Não admira que tenha dado uma ordem de matança sem pés nem cabeça.

Em suma, “RED” é uma comédia de acção onde a acção é fraca e a comédia pateta. Serviu para distrair os actores no tempo livre entre filmes a sério. Willis e Freeman foram fazer mais do mesmo; Brian Cox e Mary-Louise Parker foram lá cumprimentá-los. Salvam-se John Malkovich e Helen Mirren. Ele sempre a encher o segundo plano com pormenores de loucura; ela, hilariante, de metralhadora na mão, sem perder um pingo de classe ou majestade.

AB

i, 2010.11.11

Comentários

Barreira Invisível Podcast