Balanço 2010: A vida não chega

O cinema é o espírito do tempo em que acontece. Uma retrospectiva dos filmes de 2010 evidencia uma obsessão contemporânea: a busca por algo mais real que a realidade. O sucesso da “Rede Social” deve-se mais à fantasia global de que uma segunda vida é possível no Facebook do que à – tremenda – qualidade do filme. Os animadores 3D desunham-se a tentar que um filme seja, mais que uma experiência visual, algo que acontece diante de nós. “A Origem” duplica a vida, fazendo-nos deambular pelo território dos sonhos. De repente, parece que a vida não chega – um problema, desconfiamos, sem solução.

2010 foi também o ano de Iraque, simbolizado na coroação de “Estado De Guerra”, e da crise, com o regresso a “Wall Street”. “Shutter Island” passou entre duas temporadas de prémios; Polanski deu-nos “O Escritor Fantasma” e foi preso. “Distrito 9” assombra ainda quem o viu há um ano e é ignorado pelo resto do mundo. Ben Affleck fez-se homenzinho n’ “A Cidade”.

Do resto do mundo, vieram “O Laço Branco”, “Um Profeta” e dois Kiarostami perfeitos: “Shirin” e “Cópia Certificada”. A produção nacional salvou-se em “Fantasia Lusitana”, “José E Pilar” e “Mistérios De Lisboa”.

A alegada revolução 3D serviu para aumentar o preço dos bilhetes. O cinema que importa continuou a ser elegantemente plano.

AB

i, 2010.12.27

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