o futuro como de antigamente


EXTERMINADOR IMPLACÁVEL: A SALVAÇÃO
Realização: McG
Com: Christian Bale, Sam Worthington, Moon Bloodgood

Custa a acreditar, mas o primeiro “Exterminador Implacável” estreou já lá vão 25 anos. Schwarzenegger ainda era só o melhor pior-actor-do-mundo, o VHS era tecnologia de ponta e o romance de Orwell tornara-se, subitamente, uma profecia algo imprecisa. Anos depois, James Cameron voltou à carga com o segundo volume e a ameaça do futuro tornou-se uma coisa líquida e com mais estilo. Bem mais tarde, chegou um terceiro tomo que já poucos viram e que parecia declarar o óbito da saga, na proporção justamente inversa ao florescimento da carreira política de Arnie. Ironia do destino, em Junho de 2009, é o percurso do governador musculado que está em queda livre enquanto o Exterminador se ergue outra vez. E sem Schwarzenegger. Ou quase.
O quarto volume tem um subtítulo extraordinariamente certo: “A Salvação”. Não derrubará o primeiro no coração dos fiéis, porque já não se faz, nos estúdios de Hollywood, tanto com tão pouco orçamento. Mas Exterminador volta a fazer-nos olhar com desconfiança para os nossos electrodomésticos. Negro, frio, metálico, de novo o hardware e não o software, as máquinas voltam a meter-nos medo, a fazer-nos suster a respiração a um canto da sala para não sermos encontrados.
A história é confusa. O argumento passou pelas mãos de metade da Writers Guild Of América e terminou assinado por John D. Brancato e Michael Ferris, autores de coisas boazinhas como “The Game” e lamentáveis como “Catwoman”. E o realizador é também um nada consensual McG (a verdade é que só o facto de um tipo se limitar a assinar “McG” irrita). Prepare-se para a balbúrdia entre passado, presente e futuros alternativos, pais mais novos que filhos, recordações de coisas que ainda não aconteceram e prenúncios de factos consumados. É basicamente impossível guiar-se na linha temporal de Exterminador e o mais certo é que ela nem faça sentido. Mas isso não é – acredite – importante.
Estamos em 2018, isto é, antes da data marcada no calendário do primeiro filme. Mas a teia de acontecimentos conduziu John Connor, o messias da resistência humana, a um tempo em que tem de salvar Kyle Reese, seu futuro pai, ainda adolescente. A sobrevivência da Humanidade depende, é claro, disso. A Skynet está no auge da sua revolução e as máquinas tentam exterminar o que resta de vida humana.
McG e o director de fotografia Shane Hurlbut pintam um mundo crepuscular, sepulcral, a lembrar “Children Of Men”. E conseguem que não se duvide, por um segundo, da orfandade a que se reduziu a espécie.
Infelizmente, Christian Bale não é um herói de acção. E isso, na verdade, já estava mais que visto nos seus dois Batman. Bale é um dos melhores actores da sua geração e é por isso que não funciona como “action hero” (pela mesma razão que, em sentido contrário, Schwarzenegger era tão bom canastrão e tão mau actor dramático). O seu John Connor é mais frio, mecânico e desumano que as máquinas e, quando fala, lembra um miúdo que engrossa a voz ao telefone para pregar partidas à vizinhança. No entanto, há Sam Worthington, a grande surpresa de “A Salvação”. O seu condenado à morte Marcus Wright rouba o filme a Bale e a John Connor. O drama está todo concentrado e simbolizado nele. E, se vier um novo volume – virá – é do seu destino que queremos saber, não do de Connor.
“Exterminador Implacável: A Salvação” tem ainda um romance incipiente entre Connor e Kate (Bryce Dallas Howard), um ou outro diálogo demagógico que se dispensava e um Schwarzenegger de CGI mais natural que o real. Tem uma futura leading lady de filmes de acção chamada Moon Bloodgood, um “I’ll be back” saído da boca mais inesperada e um cheiro nobre a tragédia. Não sei se fica na cabeça. Mas deixa uma memória de medo no corpo.

AB

i, 2009.06.04

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