Críticos de cinema: os últimos renascentistas

Num mundo de cada vez maior especialização há ainda quem resista. O mais fascinante exemplo são os críticos de cinema. É fácil lembrarmo-nos de críticos de desporto especializados, o mesmo se aplicando à música - onde quem escreve sobre clássica não opina sobre pop. Mas não com o cinema. É raro encontrarmos um crítico de cinema especialista em terror ou em comédia. Não, o crítico de cinema opina sobre toda a 7ª arte com uma clarividência e mestria que rivaliza com as prodígios de Miguel Ângelo, Donatelo, Leonardo e toda essa geração. Escrevem sobre tudo.Isso diz bem de como a maioria dos críticos de cinema olha para o seu objecto de crítica: a partir de um tipo de olhar estilizado, sabe-se lá por que critérios, aplicável a toda a criação cinematográfica, seja ela qual for. Ou seja, é a obra que se tem de dobrar ao crítico e não o crítico à obra. É só a mim que isto me parece estranho. Claro que há excepções, mesmo muito excepcionais, de críticos que não fingem que estão a apreciar cinema de acordo com um cânone, misterioso e arcano, que consegue aferir e avaliar todo o cinema, qual pedra filosofal. Essas raridades afirmam-se pela opinião, a seguir ou não, em que só mesmo a experiência de vida conta. Esses são mais cronistas e ensaístas que críticos. Infelizmente há poucos. Já presumidos e boçais críticos há muito, a escrever sobre todo o cinema como se ele fosse uno e houvesse uma cartilha.
DM

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