The Brave One - IV - A violência

Enquanto assistia a The Brave One e ia desfolhando as suas várias camadas, havia também um outro de mim que regressava a A history of violence. Claro, Jordan não é Cronenberg mas havia algo ali que me chamava de novo para a obra-prima do canadiano. Era, evidentemente a violência, tema tão rico quanto difícil. A dificuldade da violência como tema está no seu facilitismo. É fácil fazer um filme violento, é fácil captar um certo tipo de público pela violência. E pode-se, mesmo assim, nunca se fazer um filme sobre a violência. Nesse campo, apesar de The Brave One ser até pictoricamente mais violento que A history of violence ambos estão equilibrados na medida em que tomam a violência como tema. Em Cronenberg como substância, como sub estância, em Jordan como ferramenta. Ferramenta-émulo, pois Jordan coloca a violência ao serviço do medo, que é em The Brave One a verdadeira substância, mas com isso transforma a violência - como é aliás, comum - num mandatário do medo. Nesse sentido The Brave One é também uma história de violência, mas enquanto Cronenberg estava interessado na pureza da violência, para Jordan esta é apenas um lastro de outra coisa. Mas o lastro tem a sua importância e em The Brave One a violência é olhada como algo que se mecaniza, aprimora, assimila. Esse tratamento da violência é importante pois reflecte uma ideia que penso o filme pretender passar e que vem a ser a da violência como uma desistência. A violência das pessoas comuns, dos vigilantes, como a violência reactiva e depois pro-activa, integrada. A violência à margem de uma cidade que se reclama segura, algo que Foster vai lembrando sobre Nova Iorque, mais do que uma vez durante o filme.
DM

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