The Brave One - I - Jodie Foster

Tudo o que vou escrever sobre The Brave One, estreado esta semana em Portugal com o título A Estranha em mim, só é possível devido a uma mulher, Jodie Foster.
Não creio que Neil Jordan, o realizador deste magnífico filme, ficasse aborrecido com esta minha consideração preliminar, caso eu fosse alguém cuja opinião avultasse. Se é verdade que Neil Jordan, realizador irlandês que comemora este ano 15 anos de carreira, com 16 longas-metragens já produzidas e uma outra em pré-produção, A Killing on Carnival Row, não é menos verdade que Jordan é um realizador de actores, que os sabe deixar respirar pelo ecrã. Ao seu terceiro filmes, Neil Jordan estava a filmar com Bob Hoskins e Michael Caine (Mona Lisa), ao quarto com Peter O'Toole (High Spirits), ao quinto com Sean Penn, Robert de Niro e Demi Moore, num argumento de David Mamet (We're no Angels). Este foi o primeiro filme de Jordan que vi. Para quem tem 16 longas passíveis de serem vistas e revistas, Jordan não está mal na minha contabilidade pessoal. Mais tarde veria aquele que muitos consideram a sua obra-prima, The Crying Game, a sua sétima longa-metragem. Depois veria Interview with a Vampire, The End of the Affair. O último, em 2003, seria The Good Thief, uma vez que saltei Breakfast on Pluto (há qualquer coisa que me irrita em Cylian Murphy, mas, enfim, hei-de vê-lo). Rememoro tudo isto para dizer que se os actores, os grandes actores, não amedrontam Neil Jordan, isso não é por nenhum momento confundido com não lhes dar o devido valor. The Brave One é um filme só possível graças a Jodie Foster. Com outra actriz qualquer, de menor valor, este filme estaria algures entre o mau e o medíocre e duvido que houvesse Neil Jordan algum que o salvasse.

É um filme difícil - e já lá iremos, a todos os seus fiordes de dificuldades - onde a nossa suspension in disbelief está num mínimo recordista: o que nos é dado é uma cidade real, sem ícones, uma mulher real, sem super-poderes, e uma história real, sem adereços. Porém, é algo de que estamos distantes pois a morte e o medo raramente tocam as vidas ocidentais da forma como tocam Erica Bain, a personagem de Foster. Daí que os sortilégios que o filme realiza, sejam tantos mais realizados por Foster do que pelo seu realizador, Jordan. Não é de estranhar: Alicia Christian Foster, 45 anos daqui a uns dias, actriz em Taxi Driver há 31, uma das minhas actrizes preferidas, é um objecto estranho no mundo do cinema. Licenciada em literatura por Yale, fala francês fluentemente além de 6 outras línguas, nunca teve aulas de representação. Isso podia não ter nada que ver com este filme ou a sua carreira como actriz. Mas tem.
DM

Comentários

Parabéns pela excelente forma como analisaste aquele que é, na minha opinião, um dos objectos cinematográficos fundamentais deste ano. E sim, a Jodie Foster é uma actriz imensa, capaz de comover e perturbar com um simples gesto ou expressão...

Abraço

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