O fenómeno Roma na galáxia Rossellini na cidade de Lisboa

Há alguns dias tentei ir rever Roma Cità Aperta, tendo como pretexto levar um amigo que não conhecia a obra. Apesar de raramente usar a prerrogativa de amigo da Cinemateca, que me permite reservar um bilhete (ao menos um!), por volta das 18h e pouco - o filme passava na sessão das 21h30 - resolvi telefonar para reservar um bilhete e saber o estado d'arte. A sala Félix Ribeiro tinha esgotado ainda antes das 18 horas. Fiquei surpreendido.

Hoje, dirigi-me à Cinemateca por volta das 15 horas para comprar bilhetes novamente para a sessão das 21h30, não já Rossellini mas Ray, com o seu Johnny Guitar. Aviso na bilheteira - que abrira meia hora antes - a sessão das 19h30, na sala Luís de Pina, estava esgotada. O filme: Roma Cità Aperta. Se é verdade que a sala é muito mais pequena - creio que não levará mais de 50 pessoas - é também verdade que a bilheteira acabara de abrir. Fiquei (apesar de tudo um pouco menos) surpreendido.

Qual a explicação deste fenómeno? Fenómeno, aliás, não totalmente novo, embora raro. De vez em quando certos filmes esgotam a cinemateca como se não houvesse amanhã. Eu vi o Roma, na Cinemateca, em 1998. Creio bem que foi a última vez que aí passou*. Talvez o intervalo de tempo leve algumas pessoas ao desespero. Talvez seja outra coisa qualquer que não apreendo.

Lembro-me que uma vez vi uma fila que descia a Barata Salgueiro esperando uma oportunidade para comprar bilhete para o Underground de Kusturica. Mas nesse caso havia alguma explicação: estávamos em pleno conflito do Kosovo.

Qualquer que seja a razão o fim é sempre reconfortante e por isso não vale a pena pensar muito nisso.
DM


* o nosso leitor Miguel Domingues corrige-me a crença lembrando, em comentário a este post, que houve em 2004 uma sessão da Roma, Cità Aperta. Fica o registo.

Comentários

Miguel Domingues disse…
Duas pequenas e respeitosas correcções.

Em primeiro lugar, a sala mais pequena da Cinemateca leva 48 pessoas. Sei, porque estive prestes a fazer um artigo sobre o espaço da Barata Salgueiro.

Em segundo lugar, Roma Cidade Aberta passou na Cinemateca a 1/10/2004, numa sessão dedica à estrela de Anna Magnani, às 15h30m. Sei porque estive nessa sessão, e guardei a folha.

Cumprimentos,
Miguel Domingues
noite americana disse…
Caro Miguel, 48 não é mais do que 50, por isso, está tudo bem. Quanto à sessão de 2004, passou-me e muito agradeço pela recordação. Um abraço. DM
Passou também pelo menos mais um vez numa sessão das 22h, na sala pequena portanto, há não muito tempo (um, dois anos?).
Julgo que o que faz esgotar mesmo é o evento mediático - um ciclo Rossellini tem mais impacto na imprensa do que uma simples sessão do realizador a meio da programação normal da Cinemateca, para além desse filme ter sido o primeiro a ser apresentado desta vez, com a presença de convidados ilustres, o que também ajuda. A maior enchente que vi recentemente foi claramente para O Triunfo da Vontade de Leni Riefenstahl em 2003 ou 2004 (ja não me lembro). O patio ca fora estava cheio e varias pessoas vieram-me perguntar se tinha bilhete.
Hugo disse…
Francisco: tens toda a razão. Foi praticamente há um ano que este na Luís de Pina. Estive lá e também esgotou dessa vez.

Tal como também tens razão na parte do mediatismo. Aliás, nestes dias, vê-se que anda pela Cinemateca muita gente que só vai lá pelo lado "social". Um exemplo: aquando da estreia do ciclo Pasolini, uma senhora sentada ao meu lado dizia que o filme de Pasolini estreado "há alguns meses" era "fantástico e genial".

Portugal no seu melhor, diria eu.
noite americana disse…
Parece-me que, afinal, estive mais desatento do que supunha. Só as lotações esgotadas me chamam a atenção...meu deus, no que me tornei. Em compensação o Johnny Guitar não esgotou... DM
Hugo disse…
DM: não diria que é uma questão de desatenção. Talvez, por exemplo, ocupação excessiva do tempo (trabalho, por exemplo)

Barreira Invisível Podcast