Arrevesado
[a propósito da discussão sobre plágio e o «Psycho» de Gus Van Sant, que vai aqui pelo Mise en Abyme, a propósito deste post do Luís]
Ao filmar «Psycho», Gus Van Sant filmou o seu Psycho e o de mais ninguém. Poderá não parecer, mas filmou algo completamente distinto do original de Hitchcock. O modo como o fez só na aparência desmente esta ideia porque tudo tem a ver com o modo como o fez. Vant Sant procurou copiar o original, fotograma por fotograma: a tomada de câmara, a luz, a condução dos actores, as linhas de diálogo, a banda sonora. Tudo exactamente igual ao original. Logo, e por isso, tudo exactamente diferente do original. Esta obsessão pela forma, que «Elephant» confirmará, foi talvez a mais difícil das opções. Em vez de recriar o filme, procurou copiá-lo, decalcá-lo. Como um monge copista saudavelmente pouco humilde. Em vez do tradicional remake, ambicionou o fake perfeito. Não procurou evocar, imitar, mas falsificar. O gozo é duplo: o cerebral, decorrente do desafio formal, e o do grande falsificador de quadros, em torno da autoria e da identidade, logo do ego. Revela, por aí, de modo apenas aparentemente paradoxal, uma pretensão desmedida. A megalomania de quem escolhe a fasquia da perfeição como a única, não meramente aceitável, mas capaz de fazer o filme funcionar segundo as suas premissas. Deste ponto de vista, o facto de o filme escolhido ser o filme Psycho pouco importa para o caso. Se o fascínio pela forma era o mais importante, então poderia ter sido outro qualquer. Excepto que Psycho se encaixa no outro grande veio que Van Sant explora nos seus filmes e que é o tema do imaginário americano, os guts and bolts da América, de «Drugstore Cowboy» a «My Own Private Idaho», de «To Die For» a «Elephant». Donde a justeza de Psycho, o filme que explicou in not so many words o que american psycho quer dizer, logo o que american quer dizer.
[republicado daqui]
RB
Ao filmar «Psycho», Gus Van Sant filmou o seu Psycho e o de mais ninguém. Poderá não parecer, mas filmou algo completamente distinto do original de Hitchcock. O modo como o fez só na aparência desmente esta ideia porque tudo tem a ver com o modo como o fez. Vant Sant procurou copiar o original, fotograma por fotograma: a tomada de câmara, a luz, a condução dos actores, as linhas de diálogo, a banda sonora. Tudo exactamente igual ao original. Logo, e por isso, tudo exactamente diferente do original. Esta obsessão pela forma, que «Elephant» confirmará, foi talvez a mais difícil das opções. Em vez de recriar o filme, procurou copiá-lo, decalcá-lo. Como um monge copista saudavelmente pouco humilde. Em vez do tradicional remake, ambicionou o fake perfeito. Não procurou evocar, imitar, mas falsificar. O gozo é duplo: o cerebral, decorrente do desafio formal, e o do grande falsificador de quadros, em torno da autoria e da identidade, logo do ego. Revela, por aí, de modo apenas aparentemente paradoxal, uma pretensão desmedida. A megalomania de quem escolhe a fasquia da perfeição como a única, não meramente aceitável, mas capaz de fazer o filme funcionar segundo as suas premissas. Deste ponto de vista, o facto de o filme escolhido ser o filme Psycho pouco importa para o caso. Se o fascínio pela forma era o mais importante, então poderia ter sido outro qualquer. Excepto que Psycho se encaixa no outro grande veio que Van Sant explora nos seus filmes e que é o tema do imaginário americano, os guts and bolts da América, de «Drugstore Cowboy» a «My Own Private Idaho», de «To Die For» a «Elephant». Donde a justeza de Psycho, o filme que explicou in not so many words o que american psycho quer dizer, logo o que american quer dizer.
[republicado daqui]
RB
Comentários
Hope to receive some help from you if I will have some quesitons.
Thanks in advance and good luck! :)