Respeito

não haverá sítio no mundo onde mais sinta respeito pela presença de um outro ser humano do que numa sala de cinema, durante um filme.

Não me refiro à multidão informe que compõe a sala, refiro-me à(s) pessoa(s) que estiver(em) comigo. Começado o filme e exceptuadas solicitações da minha companhia ou expressões reactivas, custa-me violar o espaço que acho estabelecer-se entre o espectador e o filme. Sobretudo quando pressinto ao meu lado formas distintas de sentir o cinema. Aí, esse respeito, confunde-se com uma secreta admiração e contemplação, um privilégio, quase, de poder assistir a uma experiência profunda, íntima, de alguém. E, fechando o círculo, é por intuir essa intimidade, que se pode estabelecer entre a minha companhia e a sua vivência do filme, que um enorme respeito desce sobre mim, quase um sentimento de protecção, como se pudesse impedir o resto da sala de abalar a experiência daquele(s) que comigo esta(o).

Este respeito pela intimidade intuída do outro é algo de misterioso e excepcional na minha vida, que só consigo explicar pela própria excepcionalidade das sensações que uma escura sala de cinema, projectando-se, exerce sobre mim. Mas é bom. É bom poder partilhar, assim, da frágil mas intensíssima ligação que se estabelece entre um ser humano (de quem quase sempre gosto muito) e o seu filme. Mesmo, e sobretudo, quando me é impossível perceber o que vai nesse espaço, físico, intelectual e emocional, entre ele e o ecrã.

DM

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