Wim Wenders: 0
Estreias: PINA
De: Wim Wenders
Com: Regina Advento, Malou Airaudo, Ruth Amarante
Wim Wenders é um grande cineasta. No cinema, não há reformas e, mesmo que há 20 anos não se faça um grande filme, não se perde o título.
É por essa razão que, apesar dos pesares, se parte sempre para um filme dele com certa expectativa, sobretudo quando se trata de homenagear Pina Bausch, artista ao lado da qual o próprio Wenders poderia figurar numa galeria dos mais importantes criadores alemães do fim do século XX. Mas não estávamos preparados para a vacuidade de “Pina”.
O filme desenvolve-se em três níveis; só um é interessante e não do ponto de vista cinematográfico. O documentário, filmado num 3D luxuoso, alimenta-se de trechos de espectáculos – “Kontakthof”, “Café Müller”, “Sagração Da Primavera”, entre outros – e, nesse sentido, é um bilhete privilegiado para a arte de Bausch. Aquilo que, até hoje, só poderíamos ver dum distante lugar na plateia, é aqui apresentado sobre o palco, com iluminações e figurinos perfeitos, através dos olhos imensos da câmara e do grande ecrã. Mas isto nada tem de cinema. É uma simples transposição dos bailados para a tela; deslumbrantemente filmados, sem dúvida, mas sem qualquer criação própria.
A calamidade, contudo, só acontece quando passamos aos níveis restantes. Num, Wenders transporta bailarinos para o mundo real, colocando-os a dançar em jardins e cidades, destruindo toda a lógica imanente a um espectáculo de cariz teatral, onde a realidade é necessariamente substituída por códigos de símbolos. Reduzi-los ao mundo real que interpretam é destrui-los, como sucederia, por exemplo, se reduzíssemos os quadros de Cézanne às fotografias das paisagens reais que reinterpretam.
No terceiro nível, recorre-se ao expediente do depoimento, mas com um twist. A voz dos entrevistados é colocada em off, lendo textos previamente escritos, sobre os rostos dos deponentes entretidos em fazer expressões que alegadamente combinem com o que dizem em pensamento. Chamar-lhe kitsch seria simpático. É foleiro, para utilizar um termo recentemente devolvido à prática por José Lello.
Por fim, os depoimentos são duma banalidade atroz. A Pina era maravilhosa, a Pina isto e aquilo, um dia a Pina disse-me “Tens de continuar a procurar” e eu soube, a partir desse momento, que tinha de continuar a procurar.
Felizmente, Pina tem as costas largas. Já Wenders, não é um anjo de “As Asas Do Desejo”; é apenas o homem que os filmou.
AB
i, 2011.05.12
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