menino feio, lars
As histórias da arte e do pensamento estão cheias de casos onde não se pode confundir a obra com a opinião do autor: D. W. Griffith, Martin Heidegger, José Saramago, só para lembrar alguns. No caso de Lars Von Trier, contudo, é preciso abrir uma excepção: as opiniões do homem são o acompanhamento perfeito à obra do cineasta.
Von Trier, subido aos céus com o brilhante “Ondas De Paixão”, poderá ainda enganar alguns incautos com os filmes que tem feito desde então, mas serão, suponho – aliás, espero – cada vez menos. Desde “Dancer In The Dark” que são evidentes os tiques do autor: moralismo, maniqueísmo, presunção, crueldade, um ódio qualquer às personagens que ele próprio cria e que passa por tortuoso prazer em ver sofrer até à desumanidade os protagonistas das histórias – geralmente, mulheres – sacrificadas por um mundo inteiro sem um rasgo de bondade.
As opiniões disparatadas não são de agora, mas estas, proferidas em Cannes, talvez abram os olhos a quem ainda acha que há alguma coisa a descobrir em Von Trier. São violência gratuita, polémica sem substância, contradição inconsistente, apelo desesperado por atenção – tal como, digamos, “Anticristo”.
Pessoas que acham que nos metem medo, que gostam de chocar só porque sim, que preferem ser o centro das atenções pelas razões erradas do que anónimos por bons motivos, conheço umas quantas, mas são todas menores de idade. Ao contrário delas, Von Trier já não poderá ver o problema passar com o tempo. Mas talvez se conversasse o que tem a conversar com a senhora sua mãe ou arranjasse namorada, a coisa melhorasse.
AB
i, 2011.05.20
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