saqueadores do box-office – parte dois (os ladrões)



Sobre Steven Soderbergh já dissemos por aqui, a propósito de The Good German, tudo o que pensamos. Mas a história do desporto é como é e do que menos falta são relatos de jogadores lamentáveis a fazer golos excepcionais (em ambos os usos da palavra). Não sabemos exactamente por que fomos buscar a história do desporto se é de cinema que se está a tratar, mas, de qualquer maneira, aproveite-se a metáfora para dizer que, nesse sentido, a série Ocean’s não é uma trilogia, mas o hat-trick de Soderbergh, o dia de glória que durou seis anos, entre 2001 e 2007, em que ele deu três secos ao espectador.

Pessoalmente (e as opiniões não poderão ser mais diversas neste particular), digo que foi exibição em crescendo, como convém. De um Eleven apenas divertido a um Twelve em que “bem esgalhado” seria a melhor classificação crítica para terminar num Thirteen sólido, inteligente e muito, muito entertaining.

Com um argumento enxuto e mais uma montagem genial, a terceira parte das aventuras dos ladrões armani não podia ser mais certeira: tem o tempo, a velocidade e o ritmo absolutamente certos, isto é, as medidas requeridas por um público que já está, como é evidente, rendido desde o primeiro dia, mas que quer ver ainda mais estilo, ainda mais uma estrela, um golpe ainda mais engenhoso. Muito se tem tentado voltar a inventar este este efeito-Bond, na saga Bourne, por exemplo, com Matt Damon, e, de repente, parece ter sido aqui que ela, involuntariamente, aconteceu.

Em Ocean’s Thirteen a história importa pouco, mas, à laia de pró-forma, cá vai: Willy Bank (Al Pacino) é dono de meia Vegas e tramou um dos onze de Ocean, Reuben (Elliot Gould). Logo, Ocean (Clooney), os seus onze e, já agora, Andy Garcia, vão tentar a desforra, virando ao contrário o jogo que acontece na inauguração do casino-hotel The Bank, um hotel que tenta explicar só mais uma vez a Vegas o que Vegas é. Vincent Cassel volta a fazer a sua perninha, Pacino e Garcia reencontram-se dezassete anos depois do desfecho de The Godfather e ainda anda por lá um membro da família Caan, já não James, mas o filho Scott (no papel de Turk). O lugar de sex-symbol, desta vez, fica entregue a Ellen Barkin. E acerca de Ellen muita coisa haveria a dizer, mas fiquemo-nos pelo fundamental: tem 54 anos e continuávamos a fazer-lhe um filho. Um não, dois. Não há nada pior que filhos únicos – crescem uns mimados…

O momento em que dois ladrões infiltrados acabam a liderar uma revolta por melhores condições de trabalho numa fábrica mexicana e aquele em que Clooney e Pitt assistem ao programa da Oprah oferecem duas das melhores gargalhadas do ano. E, no fim do filme, perguntamo-nos se tal concentração de estilo não deveria ser redistribuída pela humanidade.

A série Ocean fica por aqui. Soderbergh volta a levar-se a sério dentro de momentos.
AB

[publicado anteriormente na revista Atlântico nº 28]

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