Eric Roberts não é um autor, é um Auteuil

Eric Roberts é uma figura fascinante, não sendo, repare-se, um actor que me fascine. Para começar, é um homem que, de tão parecido com a irmã, se torna feio. Já está. Este é exactamente quanto tempo se consegue falar de Eric Roberts sem falar da sua irmã, Julia Roberts: nenhum. Eric Roberts vive na carne o drama que Daniel Auteuil vive no celulóide, em «Ma saison préférée». Se ser irmão de Julia Roberts é difícil, sê-lo de Catherine Deneuve é devastadoramente perturbante. O que tem faltado a Eric na vida é um Techiné que o saiba mostrar e, desavergonhadamente, explorar. Faz filmes de acção, com muita porrada. A maior parte dos papéis para que é escolhido são, adequadamente, para esquecer, e eu esqueci. No seu melhor, chega a ver Tommy Lee Jones lá ao fundo; no seu pior, consegue ser pior que Steven Seagal. O problema de Eric não é ser um canastrão, é ter pretensões. Veja-se, por exemplo, o filme que o canal Hollywood passa hoje e que se chama «Festa de despedida», e há outros. Eric supõe que enquanto fizer de canastrão nunca deixará de ser «o coitado do irmão de Julia Roberts». Correcto. Supõe também que a melhor maneira de se emancipar da irmã é tornar-se um autor. Incorrecto. Como Charlie Sheen e Emílio Esteves mostram, a melhor maneira de dois irmãos se emanciparem não é fazerem filmes artsy, é não usar o mesmo nome. Depois, Stallone escreveu e protagonizou o primeiro «Rocky» antes e não depois de «Rambo». Relembro que «Rocky», filme independente e de autor, ganhou os Oscares para melhor filme, melhor montagem, e melhor realização e que Stallone foi nomeado para melhor actor e melhor argumento (parece que Stallone escreveu o argumento em três dias; não se estranhe por isso a autobiografia de Alexandre Frota). O problema de Eric não é ser um mau actor (algo em que poderia chegar a ser bom), o problema é achar que isso não chega; que não lhe chega ser o irmão feio e sem talento de Julia Roberts.
Rui

[isto a propósito dos irmãos no cinema, e da questão Eric Roberts, sumamente importante, discutida pelos irmãos Borges no último pograma, republicado daqui, quando eu, e o Alexandre, e mais o Nuno, escrevíamos no dito Esplanar]

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