Alice e as Cidades


Penso recorrentemente em Alice nas Cidades, para mim o mais belo filme de Wim Wenders. Na verdade dizer que penso nele é eufemismo. O filme persegue-me, ou eu a ele, como uma obsessão.

Apesar de não me lembrar dos meus sonhos é recorrente ter visões claras de momentos fugazes do filme, que nunca mais revi desde a primeira viagem algures nos anos 90.

Penso em como gostaria de ser o fotógrafo Phil Winter naquela viagem; penso no que será feito de Alice, interpretada por Yella Rottländer; penso no nome do actor que encarna Winter, Rüdiger Vogler, que sempre me soou sempre a Rudi Völler.

Depois penso que talvez não seja boa ideia rever o filme, toda aquela conversa fiada de não voltar ao lugar onde se foi feliz. Mas na verdade a minha memória deste filme não é uma memória feliz. É apenas uma memória antiga, fragmentada, melancólica, onírica.

O cinema a servir de desculpa para repensar como envelhecemos, como vivemos as cidades, como imaginamos a paternidade ou a vivemos por outros meios. E, se calhar, a Alice de Wenders nem é sobre nada disto, se calhar a minha memória atraiçoa-me.

Eu prefiro pensar que me traduz.
DM

Comentários

Anónimo disse…
A minha tese de fim de curso foi sobre filmes "on the road". E Este era o primeiro, o que mais gozo me deu ver de fio a pavio e anotar. E tive um 18. ;-)
noite americana disse…
Eu sabia que havia boas razões para gostar de ti... DM
Joaquim Diabinho disse…
Permita-me dar-lhe uma agradável noticia: o "Alice..." de Wenders está programado para 2008 no teatro da trindade, provavelmente em Maio,integrado num ciclo de inéditos incluindo a Road Movie Trilogy cujo 1º filme é justamente Alice in den Städten.Em cópias 16mm, v.o., legendadas. Veremos... .
saudações,
Joaquim Diabinho

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