Tornámo-nos os seus duplos
«É assim que os suplentes se tornam invisíveis ainda quando os vemos mais perfeitamente [fotografia de estúdio a cores dos duplos do Espantalho, do Homem de Lata e de Dorothy]. Continuam a não aparecer no filme, embora apareçam no écran.
Não é esta a única razão do fascínio intrigante, exercido pela fotografia dos duplos. O seu condão resulta do facto de, no caso de um filme querido, sermos todos das estrelas. A imaginação põe-nos na pele do leão, calça-nos sapatos cintilantes nos pés, lança-nos através dos ares montados num pau de vassoura. Olhar para esta fotografia é olhar para um espelho. Vemo-nos a nós próprios nela. O mundo de O Feiticeiro de Oz possui-nos. Tornámo-nos os seus duplos.»
[Excerto do ensaio «Fora do Kansas», de Salman Rushdie, Pisar o Risco, Lisboa, Dom Quixote, 2004, pp. 13-47, aqui pp. 39-40]
RB
Não é esta a única razão do fascínio intrigante, exercido pela fotografia dos duplos. O seu condão resulta do facto de, no caso de um filme querido, sermos todos das estrelas. A imaginação põe-nos na pele do leão, calça-nos sapatos cintilantes nos pés, lança-nos através dos ares montados num pau de vassoura. Olhar para esta fotografia é olhar para um espelho. Vemo-nos a nós próprios nela. O mundo de O Feiticeiro de Oz possui-nos. Tornámo-nos os seus duplos.»
[Excerto do ensaio «Fora do Kansas», de Salman Rushdie, Pisar o Risco, Lisboa, Dom Quixote, 2004, pp. 13-47, aqui pp. 39-40]
RB
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