Camada de Ozon
Entre este título que não resisti a usar e uma ideia que ainda me perseguia e reclamava mais um texto surge este post.
Já à margem de Romain/Poupaud e do restante elenco fiquei a matutar sobre o percurso de Ozon até este filme e un certain regarde, a lembrar a bela categoria de Cannes, que Ozon deixa sobre o Tempo que Resta.
Não é só o contraste assustador entre o tema da homossexualidade tratado em Brokeback Mountain, mesmo da perspectiva gráfica, e tratado em Le Temps qui Reste. Há também uma cumplicidade com a morte, com a família, com o amor que não é comum no cinema. Não é romântica, idílica, bacoca, sociológica, violenta. Não o é como fim ou função, mesmo que o possa ser ou ir sendo. Por incrível que possa parecer, vejo mais similitudes entre o filme de Ozon e Last Days de Van Sant do que com muitos outros filmes que de uma forma certinha e previsível se poderiam ir buscar. E a similitude mestra que encontra e que suporta todas as outras, e aí reside a camada de Ozon, determinante, está numa fusão de clichés com convicções. A dupla Poupaud/Ozon percorre ante a morte/fim do filme todos os clichés: o desespero, a incómodo familiar, a relação amorosa quebrada, a praia. Mas ao fazê-lo introduz uma outra variável. Os clichés são pervertidos porque são usados apenas como forma e o grande poder do cliché, paradoxalmente, não está aí. Poupad/Ozon apresentam-nos e percorrem os temas da morte mas vão corroendo por dentro, desmontando até que, por fim (seja o que escolhemos, morte ou filme) é tudo irrelevante em face da morte de Romain. O tempo que resta não é (nunca foi) o de Romain, mas o dos que lhe sobrevivem, embora esse tempo seja pouco importante. O que importa é, Ozon quer que meditemos sobre isso (se não for pedir muito), um cadáver ao pôr-do-sol.
Camadas de Ozon também porque este é um segundo momento de uma triologia. Bem desarticulada, percebe-se já confrontando Sous le sable com Le temps qui reste, mas a permitir ainda um percurso pela ausência, pela perda, pela morte mas, igualmente, pelo reconhecimento, pelo regresso, pelo (forçado) conhecimento de si.
DM
Já à margem de Romain/Poupaud e do restante elenco fiquei a matutar sobre o percurso de Ozon até este filme e un certain regarde, a lembrar a bela categoria de Cannes, que Ozon deixa sobre o Tempo que Resta.
Não é só o contraste assustador entre o tema da homossexualidade tratado em Brokeback Mountain, mesmo da perspectiva gráfica, e tratado em Le Temps qui Reste. Há também uma cumplicidade com a morte, com a família, com o amor que não é comum no cinema. Não é romântica, idílica, bacoca, sociológica, violenta. Não o é como fim ou função, mesmo que o possa ser ou ir sendo. Por incrível que possa parecer, vejo mais similitudes entre o filme de Ozon e Last Days de Van Sant do que com muitos outros filmes que de uma forma certinha e previsível se poderiam ir buscar. E a similitude mestra que encontra e que suporta todas as outras, e aí reside a camada de Ozon, determinante, está numa fusão de clichés com convicções. A dupla Poupaud/Ozon percorre ante a morte/fim do filme todos os clichés: o desespero, a incómodo familiar, a relação amorosa quebrada, a praia. Mas ao fazê-lo introduz uma outra variável. Os clichés são pervertidos porque são usados apenas como forma e o grande poder do cliché, paradoxalmente, não está aí. Poupad/Ozon apresentam-nos e percorrem os temas da morte mas vão corroendo por dentro, desmontando até que, por fim (seja o que escolhemos, morte ou filme) é tudo irrelevante em face da morte de Romain. O tempo que resta não é (nunca foi) o de Romain, mas o dos que lhe sobrevivem, embora esse tempo seja pouco importante. O que importa é, Ozon quer que meditemos sobre isso (se não for pedir muito), um cadáver ao pôr-do-sol.
Camadas de Ozon também porque este é um segundo momento de uma triologia. Bem desarticulada, percebe-se já confrontando Sous le sable com Le temps qui reste, mas a permitir ainda um percurso pela ausência, pela perda, pela morte mas, igualmente, pelo reconhecimento, pelo regresso, pelo (forçado) conhecimento de si.
DM
Comentários