Pigmalião e Galateia

Sobre o último filme de Claude Chabrol, A Dama de Honor, há que dizer que a obsessão não é inexplicável mas sim de uma justificação insuficiente e insatisfatória.

O obcecado encontra explicações - racionais - para a sua obsessão e, mais importante, para matar a sua obsessão. Simplesmente, essas explicações não o satisfazem porque, racionalmente, o obcecado não encontra qualquer correlação entre a explicação racional a que chega e a profunda intensidade emocional a que está sujeito. Esta diferença subtil é muito relevante.

O obcecado não perde o contacto com a realidade, com a racionalidade. Pelo contrário, ele mantém-se racional e até viciado na racionalidade porque se promete a si mesmo explicar de forma convincente a sua obsessão e as razões para deixar de estar fascinado pelo seu objecto.

Mas o obcecado não percebe que a sua obsessão, ao ter vida própria, é autónoma e é o obcecado que na sua dupla obsessão cega e doentia - pelo algo e pela sua explicação - se torna um objecto.

A partir desse momento é irrelevante que encontre ou não uma explicação. É irrelevante que se liberte ou não da obsessão. Ela, de uma forma ou de outra, acompanhá-lo-á para sempre.

É esse obcecado que Benoit Magimel encarna soberbamente. E que encontra explicação e necessária compreensão e simpatia de todos aqueles que vêem em Laura Smet, uma boa obsessão.
DM


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