estados íntimos da américa


Já venho tarde para anunciar o pequeno tesouro que mora em Elizabethtown, mas, tal como, suponho, qualquer outro que assista, não resisto a repeti-lo.
Felizmente, Cameron Crowe entendeu trocar a megalomania pelo regresso a melomania que lhe é tão própria (aliás, ninguém me tira da cabeça que Crowe, tão virado para a autobiografia, não use o fracasso do seu protagonista - no caso, um par de sapatilhas - como metáfora de Vanilla Sky). E esse regresso vem acompanhado de outro: o regresso a casa. Essa viagem, executada por Orlando Bloom, mas conduzida pela mão e pela voz de Kirsten Dunst, não se apazigua, necessariamente, num passado. Pelo contrário, inventa-o a um homem que, percebemos, não o tivera.
Será conservador e um pouco moralista (por mim, tanto melhor), mas consegue fazê-lo com inteligência. E, se as redenções são dadas apenas e só quando cada um dos filhos se percebe olhado, com orgulho, pelo respectivo pai, os trajectos não são óbvios e cruzam alguns pontos de paragem obrigatórios e memoráveis: o já famoso telefonema, o memorial ao falecido Mitch; a saga das suas cinzas; o diálogo de Dunst com o seu próprio vestido, etc.
A América, segundo Crowe, faz-se pela estrada fora, mas não à maneira de Kerouac. Tem referências e pistas muito concretas. E um mapa. Do Country e dos Blues a Jeff Buckley; de Mark Twain a Martin Luther King.
Para ver e fazer, no final, o teste de que falava o Domingos, alguns posts abaixo: apesar do muito que me ri no interior da sala, dei por mim, já na rua, mais melancólico que o próprio Jeff.
AB

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