há rede em marte
Estreias: SOU O NÚMERO QUATRO
De: D. J. Caruso
Com: Alex Pettyfer, Timothy Olyphant, Dianna Agron
Há duas novas estrelas no cinema: o Iphone e os portáteis da Mac. Em cada vinte filmes, dezanove – dados não comprovados cientificamente – usam telemóvel ou portátil Apple. Em “Sou O Número Quatro”, o fenómeno atinge dimensões interplanetárias. Temos uns aliens que andam aqui na Terra e usam, é claro, Iphone. Têm, como sempre, tecnologias e inteligências superiores, estão muito mais avançados que nós, mas não que a Apple – isso é que era bom. Na hora de escolher um computador ou telemóvel, borrifam na ciência que lhes permitiu viajar anos-luz, adquirir aparência e fala humanas e correm para a Apple Store mais próxima. Ele há coisas do demónio.
No entanto, se este fosse o único problema de “Sou O Número Quatro” (sim, é verdade. O título parece uma apresentação descontraída do próprio Iphone 4, mas é capaz de ter sido acidental), estaríamos bem. Mas não é. “Sou O Número Quatro” tem mais problemas que aliens: clichés em barda, uma locução pirosa, o mesmo realizador de “Tirar Vidas” (um thriller que ameaçou cumprir o título sobre salas cheias de incautos espectadores de bom gosto), etc. Mas o maior problema é ser um filme para adolescentes.
Parece que é ficção científica, mas não é. A ficção científica serve como reflexão da humanidade ou metáfora dela, não das fantasias de poder da adolescência. “Sou O Número Quatro” é uma fantasia adolescente; em vez dos vampiros de “Twilight”, tem aliens. O resto é a mesma urgência de afirmação pessoal, o mesmo mundo a que aparentemente se subtraíram os adultos, onde o adolescente tem direito a tornar-se ultra-popular na escola, sacar a miúda gira e salvar o mundo.
Os grandes filmes são intemporais; os filmes para adolescentes são tão transitórios como a adolescência. Agarrados à linguagem, estética e modas do tempo em que são feitos, nada dirão à próxima fornada de adolescentes que há-de arranjar manias novas e olhar para estas como foleirice arqueológica do tempo do irmão mais velho (Iphone incluído).
Ao certo, de que trata “Sou O Número Quatro”? Bom, se o leitor quer mesmo saber, algures no Espaço, uma tribo de aliens maus invadiu um planeta e dizimou a população. Contudo, nove jovens sobredotados, considerados essenciais à defesa daquele planeta (aquele onde já não há ninguém para defender, notem bem) foram mandados a tempo dali para fora. Para onde?, pergunta o leitor. Para a Terra, claro. É o costume. Não há filme com aliens em que eles não escolham a Terra como sítio porreiro para uma vida nova – deve ser por ter Iphones.
No entanto, uns tempos depois, os aliens maus compram o mesmo pacote de férias e descobrem que os nove sobredotados estão cá, e vai de começar a exterminá-los um por um. Agora, chegou a vez do quarto.
Os vilões lembram Tricky, o músico, com esteróides. O herói é um tipo com jeito para as artes marciais e um dom que, a dado passo lhe é revelado: ao contrário dos humanos, ele, quando ama, ama para sempre. E ficamos por aqui porque não queremos ver o leitor com essa lagriminha no olho.
Enquanto protege o nerd dos bullies que lhe dão encontrões contra os cacifos – outro clássico – e ganha a paixão da miúda mais gira do liceu (outrora, namorada do chefe dos bullies, outra ideia nunca vista), o número quatro vai desenvolvendo poderes até estar apto a enfrentar os vilões com cara de Tricky no grande final que terá lugar no próprio liceu, o eixo da Terra, na cabeça de qualquer adolescente.
Se é assim tão mau, porquê dar-lhe duas estrelas em vez de uma? Porque há filmes para adolescentes ainda piores. É conferir a nota sobre “Guerreiros Do Amanhã”, no cartaz desta semana.
AB
i, 2011.03.17
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