O Avatar de Tolkien

(pintem-nos de azul e mandem-nos para as Caraíbas)

Em tempos de sucesso de bilheteira (e de crítica) da última criação de James Cameron, Avatar, dou por mim a pensar que, realmente, nunca ninguém inventa nada.

Tal como o universo de Dan Brown é um pronto-a-vestir da alta costura de Umberto Eco - confronte-se o Código Da Vinci com o Pêndulo de Foucault e já está - também o Avatar de James Cameron, embora mais original, deixa na boca um travo ao mundo de Tolkien que merece contraprova. Dá-se o caso de, por cautelas e caldos de galinha, estar já a ler a edição inglesa de The Hobbit, preparando-me para o Natal de 2011 e a estreia da versão cinematográfica, a cargo de Guillermo del Toro. Por isso, elfos e homens é o que não falta.

Não são apenas as orelhas pontiaguadas que aproximam os Navi e os Elfos (se fosse só isso tinhamos que meter os Vulcanos ao barulho e nunca mais saímos daqui). Há também a superioridade física em relação ao ser humano (embora não técnica, como também acontece com os elfos). E há a harmonia com a natureza, com a grande árvore dos Navi a lembrar muito o palácio de Galadriel em Lothlórien. No geral há uma espécie espiritualmente superior ao ser humano que acaba por lhe oferecer uma nova moral, de sinergia com o Universo.

Claro que também Tolkien está a rememorar alguém antes dele e assim vai o mundo. O bom de Tolkien, como de Cameron é saberem fazê-lo da melhor maneira disponível no momento, na medida dos seus talentos, assim permitindo uma actualização de preocupações intemporais: Elfos ou Navis, o que importa é que continuemos a ter no nosso imaginário uma utopia qualquer que puxe por nós, que nos incomode.

DM

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