A history of violence (IV) - Operático*
O encontro no bar de Philadelphia, o louro Ruben, o percurso até à mansão de Richie Cusack - que me lembrou Eyes Wide Shut - a disposição e a encenação da chegada, com os simbólicos seguranças emoldurando o hall. E, finalmente, a entrada em cena de William Hurt. Todos estes elementos e tudo o resto que, através deles, sucede até ao ajoelhar purificador no lago - prodigiosa cena! - podiam perfeitamente ser uma curta metragem, filme autónomo, com outro título (sugeriria An opera of violence ou An essay concerning human violence, para contrapor um título sério a uma matéria tragico-cómica) e outro sentido.
É bem verdade que não é esse o caso e o sentido desta parte do filme ganha muito mais pelo que traz de afluente às grandes lições desta História de violência; mas aqui neste percurso parece que Cronenberg filmou outro filme - um outro bosque literal e ficcional: Tom Stall fica para trás, há apenas Joey Cusack, que no princípio não o quer ser, depois não o pode evitar ser e finalmente se lava(?) de o ser.
Há algo de Romeo+Juliet em todo este desenlace e, por alguma razão tortuosa, a precisar de horas e horas de terapia, recordei também The killing of a chinese bookie.
Mas, regressemos a ele, é a William Hurt que se deve the oddball ambiance deste trecho. Desde o início, Richie é logo uma caricatura. Está em completo confronto com o mundo em que o irmão quis viver, onde todas as personagens, por mais planas que sejam, têm uma humanidade tocante e palpável, desde o irritante highschool bully até ao sheriff dedicado e preocupado. Hurt não é nada disso. Larger than life (but not that much) ele entra em cena como o grande protagonista (da tal curta em que ele é o actor principal) e nunca, por um único momento, a sua prestação vai abaixo do génio. Aliás, repare-se que ele irá ganhar o Oscar para melhor actor secundário com uma prestação com pouco mais que 15 minutos. Grandes 15 minutos. E tinham mesmo de ser.
Como escrevi acima, o propósito de Hurt em A history of violence é, em entrada de carrinho, explicar a grande fractura na identidade Cusack/Stall e contrapor-se a tudo o que o irmão escolheu e fez nos últimos 20 anos. Até, em anteclimáx (o verdadeiro [?] é feito a uma mesa, pouco tempo depois), permitir a redenção de Tom, com a sua própria vida. Vai no desempenho de Hurt tudo o que Joey Cusack precisa de ser. A nutshell de amoralidade, insensibilidade, loucura, perversão, crueldade, ganância. Perfeito.
DM
* - o autor está consciente da inexistência canónica desta palavra
É bem verdade que não é esse o caso e o sentido desta parte do filme ganha muito mais pelo que traz de afluente às grandes lições desta História de violência; mas aqui neste percurso parece que Cronenberg filmou outro filme - um outro bosque literal e ficcional: Tom Stall fica para trás, há apenas Joey Cusack, que no princípio não o quer ser, depois não o pode evitar ser e finalmente se lava(?) de o ser.
Há algo de Romeo+Juliet em todo este desenlace e, por alguma razão tortuosa, a precisar de horas e horas de terapia, recordei também The killing of a chinese bookie.
Mas, regressemos a ele, é a William Hurt que se deve the oddball ambiance deste trecho. Desde o início, Richie é logo uma caricatura. Está em completo confronto com o mundo em que o irmão quis viver, onde todas as personagens, por mais planas que sejam, têm uma humanidade tocante e palpável, desde o irritante highschool bully até ao sheriff dedicado e preocupado. Hurt não é nada disso. Larger than life (but not that much) ele entra em cena como o grande protagonista (da tal curta em que ele é o actor principal) e nunca, por um único momento, a sua prestação vai abaixo do génio. Aliás, repare-se que ele irá ganhar o Oscar para melhor actor secundário com uma prestação com pouco mais que 15 minutos. Grandes 15 minutos. E tinham mesmo de ser.
Como escrevi acima, o propósito de Hurt em A history of violence é, em entrada de carrinho, explicar a grande fractura na identidade Cusack/Stall e contrapor-se a tudo o que o irmão escolheu e fez nos últimos 20 anos. Até, em anteclimáx (o verdadeiro [?] é feito a uma mesa, pouco tempo depois), permitir a redenção de Tom, com a sua própria vida. Vai no desempenho de Hurt tudo o que Joey Cusack precisa de ser. A nutshell de amoralidade, insensibilidade, loucura, perversão, crueldade, ganância. Perfeito.
DM
* - o autor está consciente da inexistência canónica desta palavra
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