quer a gente Keira ou não Keira


A primeira (e complexa) pergunta a fazer acerca de Orgulho e Preconceito é: pode Keira Knightley, rival directa de Scarlett Johansson na conquista do ceptro mais-que-tudo-no-top-sex-symbol-para-intelectuais-portugueses, ser razão suficiente para arrancar de casa um homem e metê-lo num cinema, a fim de assistir à quadricentésima adaptação de um romance de Jane Austen ao grande ecrã? Em suma: gostamos assim tanto dela que valha a pena suportar mais de duas horas de visões românticas de Inglaterra georgeana só para a ver? Não estará mesmo por aí em cartaz nenhum filminho do Steven Seagal?
Se respondeu ‘não’ à primeira questão e optou por alugar o DVD de Fogo Cerrado, pode passar à página seguinte; se respondeu ‘sim’ e se enfiou mesmo na sala de cinema, continue a ler, por favor.
Contra todas as apostas, a verdade é que o pouco mais que estreante Joe Wright, acompanhado dos produtores de, por exemplo, O Amor Acontece e dos Diário de Bridget Jones, conseguiu, de uma história batida e mantendo uma opção narrativa clássica, inventar um filme muito agradável, nada ingénuo e capaz de arrancar quatro nomeações aos Óscares, incluindo o de Melhor Actriz, para gáudio de todos os membros do referido Keira-fanclub.
A história das cinco filhas da família Bennet, na Inglaterra oitocentista, em busca de casamento, com os desígnios materiais da mãe a sobrepor-se aos sonhos românticos das próprias debutantes, ganha novo encanto com o notável desempenho de Knightley enquanto Elizabeth e um magnífico Mr. Darcy composto por Matthew MacFadyen, bem suportados por um excelente leque de secundários onde pontificam Donald Sutherland e Judi Dench. Joe Wright consegue um todo muito bem humorado, equilibrado e com uma atmosfera geral de baile através, entre outros recursos técnicos, de alguns notáveis planos-sequência.
Certamente, não dividirá a história do cinema em duas, mas este Orgulho e Preconceito justifica, plenamente, o dispêndio de um domingo à noite. Afinal, o Steven Seagal nunca vai saber e, para o público feminino presente na sala, sempre passamos uma imagem de homens com sensibilidade – diz que também é importante.
AB

Texto publicado na revista Atlântico nº 12.

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