o sentido contrário da vida


SEM EIRA NEM BEIRA

De: Agnès Varda

Com: Sandrine Bonnaire, Macha Méril, Stéphane Freiss

Leão de Ouro em 85 e lançado em dvd pela Midas na colecção Agnès Varda, “Sem Eira Nem Beira” é a reconstituição da história duma rapariga sem história. Encontrada morta de frio na berma duma estrada, é um corpo anónimo sem ninguém para o chorar. Varda recua no tempo para lhe dar um nome e segui-la, de mochila e tenda às costas e nenhum desígnio em mente. Ela não é uma hippy, uma rebelde, uma fugitiva, não persegue nada, não existe. Limita-se a pedir boleia, qualquer que seja o destino, e a dormir e comer como pode, onde pode, com quem pode. Não traz qualquer mensagem ou revolução. É a pessoa menos marcante do mundo, mas torna-se, perversamente, num factor de perturbação para quem vive dentro da lei social. Invejam-lhe a liberdade. E Mona é, de facto, livre, mas vive na ténue linha que separa a errância do erro. O golpe de génio é que “Sem Eira Nem Beira” não faz juízos morais. Pode ser bandeira de conservadores e anarcas.

Leia também: “Pela Estrada Fora”, Jack Kerouac, de cuja adaptação ao cinema por Coppola se continua, sonhadoramente, à espera.

AB

i, 2010.01.30

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