Elegy of a Dying Animal
Só a uma hora de o ir ver (re)descobri que Elegy, de Isabel Coixet, com Penélope Cruz, Ben Kingsley, Dennis Hopper e Peter Sarsgaard é uma adaptação de The Dying Animal de Philip Roth. Li este livro em três dias, como um furacão. Havia acabado de chegar a Praga e a Mariana tinha a edição inglesa em cima do sofá. Comecei a lê-lo mesmo enquanto conversávamos e pedi-lho emprestado: foi a minha leitura nos intermezzos dos passeios por Praga. Adorei. Talvez porque conheci alguns tipos parecidos com a personagem principal, talvez porque retrata a velhice e o medo da morte de uma forma que me agradou. Talvez porque Roth me pareça ter uma mundividência (só li outro livro dele, American Pastoral) muito diferente da minha. Por exemplo, a dado passo, no livro e no filme, o velho professor diz que os homens fazem amor para se vingarem de todas as derrotas da vida. Eu nunca conseguiria sequer pensar em algo semelhante, quanto mais concordar. Para mim fazer amor sempre foi um acto de celebração por estar vivo. Mais, é um acto de percepção do que é estar vivo. Esta distinção entre o mundo que parece trazer Roth e o meu próprio interessa-me, pois a literatura também pode servir para nos entregarmos a ser outros de nós. Nessa medida Isabel Coixet encontra-se a meio caminho entre o duro Roth e uma leitura celebratória da vida, mesmo em casos de vida ou de morte (literalmente). Gostei muitíssimo dos dois filmes dela que vi - My life without me e The secret life of words, ambos com a magnífica Sarah Polley - mas os dois são bons exemplos de uma certa tendência de Coixet pelo lado negro da vida, onde apesar de tudo se pode encontrar algum conforto. O que explica aliás, o final que escolhe para o seu filme. Kingsley faz um papel portentoso e Cruz vai muito bem. Gostei particularmente do papel de Dennis Hopper, apesar de curto. Todos contribuem para uma elegia, que é simultaneamente uma ode, ao envelhecimento e ao modo como ele pode ser visto e subvertido pelos diferentes ritmos da vida.
DM
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Comentários
Li-o em Inglês vai fazer um ano e adorei!
Não foge muito ao estilo (faz-nos seguir a vida de um homem e a consciencia da degradação do seu corpo - pelo tempo e não só - e a rspectiva dor fisica e psicologica), mas admiro o tipo de escrita e de abordagem. Roth é simultaneamente realista e original.
Gostei imenso de ler o post: ainda me deixou com mais vontade de ver o filme =)*