Uma imagem vale mais do que mil caracteres
Bom, bom, bom, isto de vir agora escrever sobre uma coisa depois dos outros já terem feito o mesmo tem os seus inconvenientes. É como uma daquelas festarolas bréte-ellisianas em que os frat boys se servem à vez da moçoila que esce botticellianamente de dentro da tarte americana gigante. Nomeadamente, e isto interessa às vezes mais do que se julga, a falta de assunto. Recuemos um pouco. A ideia era que cada um de nós escreveria mil caracteres sobre o aguardado filme «Match Point». O facto de isso não ter acontecido não foi sequer o primeiro fracasso. O primeiro fracasso foi o filme. Vê-lo, no entanto, requereu que nos dirigíssemos ao cinema em ordeiro grupo. Assim se passou, e há testemunhas. Ultimamente, tenho muitas vezes a impressão, ia a dizer a sensação, que os filmes são demasiado longos, para não dizer dispendiosos. Ou então é dos ares condicionados. Para quem é enfermiço, como eu, ir ao cinema passou a requerer um seguro médico. Só assim voltei a frequentar o Quarteto. Eu aconselho o da Medicare porque inclui a ortodontologia no pacote mais básico. Estamos a falar de cinco contos e tal por mês. A Medis, por exemplo, temos que ir para o pacote de sete contos e tal. Faz frio no cinema em Portugal, e na rua e em casa, mas em Londres parece que se anda à fresca. Considere-se o rapaz Rhys-Meyers do «Velvet Goldmine», sempre em corpinho bem feito. Aquele andar, ai, ai, sobre o rio. A cena em que o Rhys-Meyers atira a aliança contra o railing do embankment é decalcada frame por frame do «Frenzy» do Hitchcok, como de ordinário se costuma dizer. Mas aí calma lá, estava de casaco. Algo está podre em Londinium? Assim parece. Ainda no outro dia apareceu uma baleia no Tamisa e tiveram que tirá-la e comê-la. Lembram-se do início do «Frenzy»? Ah, pois é. O frio conserva tudo, ou quase tudo. A Scarlett é a óbvia sucessora de toda a Kathleen Turner, e está a meia hora de ficar gordinha (bem vimos os love handles). A Kathleen Turner já está gordinha toda por igual, menos na voz, e não é por isso que deixa de fazer – e bem, ao que parece – o «Who’s afraid of Virginia Wolf?». O tal Rhys-Meyers, que não é nenhum novo Burton (desde logo, é mais bonito e tem, digamos, altura), teria feito um «Talentoso Mr. Ripley» verdadeiramente assustador, subtexto gay e tudo incluído; em todo o caso, melhor do que o anafadinho viçoso Matt Damon ou o valmontiano de San Giminiano Malkovich. Móstoles ou Atocha? Agora não me recordo.
RB
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