Brief Notes on The Talented Mr. Wilton err...sorry, Match Point

1. Tenho impressão (estou quase certo) que Jonathan Rhys-Meyers é mais atraente que Scarlett Johansson.

2. Finalmente um realizador lembrou-se de explicar porque razão nunca traí nenhuma namorada: reparem bem no trabalho que dá. Não compensa. E depois acaba, geralmente, mal. Mais tarde ou mais cedo. Não estou a tentar dissuadir ninguém e muito menos a fazer juízos morais (well...), estou simplesmente a relatar uma experiência pessoal.

3. Só mesmo tomando o mote do filme de Allen - a importância do acaso - podemos encontrar uma ironia condutora de toda a história. Só assim podemos justificar cenas e pormenores que de outro modo pareceriam inverosímeis ou mesmo ridículos e que não aceitaríamos em qualquer outro filme, ou de qualquer outro realizador.

4. A escolha dos espaços de realização é prodigiosa, se bem que um pouco turística, mas compreende-se num novaiorquino que abandonou a sua cidade para mergulhar em Londres. Há o Palácio de Buckingham, há o Parlamento, há a Tate Modern e há aquele apartamento do jovem casal, que é um atentado à classe média. À parte isso Woody Allen faz uma ode à upper life moderna. Está lá tudo: as grandes empresas, o carro com motorista, as caçadas, as cavalgadas, o Mercedes, o BMW descapotável.

5. A ópera. A ópera é um dos aspectos que mais me intrigou em Match Point. É através dela que vim a colocar a questão: as coisas vão acontecendo a Chris Wilton ou ele está a planeá-las desde sempre, apenas ajustando aqui e ali conforme as circunstâncias? É que se por vezes a ópera, como outras coisas, parece ser uma paixão de Chris, que o acompanha desde a sua pobre infância; noutros momentos a ópera parece ser um meio para subir na vida.

6. Se a história contada por Woody Allen não é nova - é recorrente o tema do homem que se torna um assassino para manter o estilo de vida que adquiriu, sobretudo quando relacionado com uma traição - qual é a bondade e qualidade deste Match Point? Antes de mais a própria cinematografia de Allen, para quem goste, pode ser avançada como argumento: os planos interiores de conversas de grupos, em restaurantes e casas, os planos de proximidade entre um homem e uma mulher; depois, os diálogos, claro. Mas não pode ser só isso. Não num filme de Woody Allen.

7. Trata-se de (conseguir) pôr a vontade à frente da moral. O que Woody Allen vem esclarecer é que isso é mais facilmente conseguido devido ao acaso, do que a um acto puro de vontade. Não escapamos, por dentro, à nossa consciência, ou por fora, à lei, porque queremos mas porque acontece.

8. Match Point diz-me pouco. Fora do exercício cinematográfico, nem sempre irrepreensível, e dos bons diálogos, o resto não me tocou. O relativismo moral ou mais justamente o acaso e o medo da degradação enquanto justificação (da) moral é para mim uma evidência. Um homem disposto a tudo para manter o seu nível de vida, incluindo matar a sua amante e o filho nascituro, salvando-se apenas por um acaso, não é nada de especial. É a vida. E é, em boa parte, a história do cinema.

9. Fica por isso por fazer o filme sobre o homem que deixa a mulher pela amante; sobre o homem que deixa a amante pela mulher e por um acaso nunca é descoberto; etc, etc, etc. Fica, enfim, por fazer um filme moral, sem fatalismos nem acasos. O relativismo moral é tão humano quanto o absolutismo moral. Trata-se de optar. A desculpa do acaso não cola: está presente, independentemente da opção que tomemos.

DM

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