Morrer na praia

Se eu já gostei de Melvil Poupad como o Gasparde do Conte d'Été de Rohmer, em que, sejamos francos, ele é um pouco parvinho, como não gostar dele, em que vai magnífico, neste Le Temps qui Reste?

O tempo que resta a Romain, pode ser-se provocador, é o que menos interessa. É-o porque é facticamente o que menos tempo tem - todos lhe sobrevivem - e porque, por isso mesmo, todos as outras personagens continuarão a confrontar-se com o tempo que lhes resta e, mais importante, com as questões que os atormentam ou, mais suavemente, que os acompanham. À irmã, a possessão dos filhos, aos pais um casamento assente num paradoxo, a Sasha a estrada aberta. Romain, escolhido o seu tempo restante, por ser o tempo restante a termo certo, é o que melhor com ele lida. Lida-se sempre melhor com o que se sabe que vai acabar. O homem não é animal de mudanças não anunciadas. Pouco dado a epifanias, que logo diviniza ou afasta. Pois esta, divinização à parte, que no filme não é sequer tema, não pode ser afastada. Os passos em volta de Romain, os seus e os dos outros, são simultaneamente um testamento não escrito (a juntar-se ao escrito), como a visita à avó, o telefonema para a irmã, a conversa com Sasha e uma preparação para o desconhecido. E o que se faz aí? Segundo Ozon primeiro regressa-se ao conhecido, depois despede-se o conhecido e por fim, para o fim, ficamos com o único conhecido. Romain morre na praia. Nem vou entrar nas piadas ou leituras litúrgicas, já basta o título. A mim agradou-me imageticamente este final. Permite à morte respirar, que sempre é uma vingança nossa sobre ela.

DM

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