Cartaz


Não se concebe um filme sem o seu cartaz. O cartaz é o filme que antes de o ser já o é. É a provocação, o tição. É o bocadinho compacto de filme, que não sendo filme, o substitui magistralmente. É também um óptimo auxiliar de memória.

Comecemos pelo princípio. Como é de honra, explique-se que a razão próxima deste texto é este post do Mostrengo Adamastor. A razão remota prende-se com a minha paixão pelos cartazes, aliás, partilhada com postais, embora de modo diverso. Se os postais, no meu caso, se consomem entre uma colecção privada e íntima que serve a minha aleatória e casual fruição e uma dedicada escolha e intermitente envio para aqueles que amo; os cartazes são de partilha presencial, de abertura aos espaços que habito. Os cartazes de cinema, como os postais de cinema, têm o lugar principal.

Nem de propósito nenhum dos filmes de que tenho o cartaz em minhas casas está contida nesta lista. Um deles, português, dificilmente estaria, mas os outros três dá pena e num caso não se compreende de todo.

Na minha sala de Lisboa partilho com os parcos visitantes o cartaz do Dolls e do Disponível para amar. No quarto, mesmo em frente à cama, para adormecer e acordar, vela o cartaz do Rouge.

O cartaz do Dolls é lindíssimo e contém o filme numa essência puríssima, como é difícil conseguir. O do In the Mood for Love não lhe fica atrás. Já o do Rouge é mais simples, não antecipando o que nos espera no filme. Para o Alentejo deixei apenas, por enquanto, a Costa dos Murmúrios, cuja capa tem uma bela transfiguração de Beatriz Batarda, em tons que só África permite. Neste caso o cartaz substitui o filme, pois, por peripécias várias ainda não o consegui ver. E, creio que dificilmente suportará a competição com o filme que já fiz só olhando este cartaz.

Os cartazes tornam-se ícones. Tão depressa destroem o filme, por se tornarem a nossa alegoria construída sobre ele (e para além dele), como, a dado momento, nos reavivam a carne e o espírito para a urgência de o rever e reviver.

DM

Comentários

Anónimo disse…
É curioso ler este post, com estes dois cartazes, porque foi exactamente pelos cartazes que vi o Disponível para Amar e o Dolls. Assim tomei contacto com a obra de Takeshi Kitano e de Wong Kar-Wai, que até então desconhecia (mentira. do Kitano já tinha visto o Zatoichi), sendo este último actualmente o meu realizador fetiche.
Esta lista que forneces está realmente boa. Agradeço a partilha.
noite americana disse…
Caro José, eu é que agradeço: é bom saber que Kar-Wai tem cada vez mais admiradores. Creio que merece.

ZP, em Lisboa, confesso que não conheço muito locais onde se possam comprar bons cartazes de filmes, exceptuado a Cinecittá, perto da Avenida Roma, ao pé da gare do Areeiro, embora seja um pouco cara. Na net tenho comprado alguma coisa na allposters.com, que por vezes compensa. Um abraço.

DM
Margarida disse…
curioso, outro dia conheci um cinéfilo q também tinha, como eu, o poster do DOLLS ao lado da cama, e vejo que não somos os únicos a telo nos nossos espaços vitais. O do IN THE MOOD FOR LOVE, ofereci-o a uma grande amiga quando estava em férias em Barcelona, mas de bom grado o teria no meu quarto, senão tivesse já todo o espaço preenchido. Curioso mencionares o ROUGE, pois o próximo que queria adquirir era o BLEU (o meu preferido, quase a par do "teu" Rouge..) e sempre achei o da Costa dos Múrmurios fabuloso (tal como toda a imensa fotografia do filme9 mas nunca soube onde o encontrar.
Guardo parte do tecto para um poster Hungaro mt ténue do GERRY e uma parede do atlier para 8e1/2 ao lado do poster da exposição do Baldessari que está anda agora em Lisboa. de resto música, e achados na rua.. :)
Anónimo disse…
Hola. perdon por no escribir en portugues (e muito malo). Soy un coleccionista español de postales de cine. Tengo mas de 300 para intercambiar. si alguien le interesa mi correo es
secundino98@yahoo.com

un saludo desde Sevilla
Obrigado

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