A morte de um actor americano
Segundo a já mítica internet movie database (imdb), Ben Gazzara interpretou personagens por 133 vezes, entre filmes e séries. Para mim, bastou uma vez. Mesmo que o tenha visto em perto de uma dezena.
Houve Opening Night (Noite de estreia) e depois Roadhouse Blues (Profissão: Duro). Houve Bufallo '66, The Big Lebowski e Summer of Sam (Um Verão Escaldante). Houve Happiness e a segunda aparição de The Thomas Crown Affair. Houve Dogville e Paris Je t'aime.
Apesar de ter trabalhado com vários realizadores, Ben Gazzara ficará para sempre associado ao grande John Cassavetes. E é a este realizador que tenho a agradecer a felicidade de ter conhecido Cosmo Vitelli.
Em A morte de um apostador chinês, um filme a que regresso regularmente para reaprender a viver, Ben Gazzara está soberbo. Ele é um sobrevivente, ele é um entertainer. Ele é um homem que sabe que o espectáculo tem que continuar. Ele é um homem simultaneamente sozinho e gregário. Um homem que se movimenta entre a beleza do fugaz e ilusório e a frieza do real e perene.
Eu ainda não tinha nascido quando Ben Gazzara deu à luz Cosmo Vitelli. Nasceria alguns meses depois. Contudo, o filme só viria a estrear em Portugal, no 25 de Abril de 1997. Data apropriada. A morte de um apostador chinês é um filme libertário. E Cosmo, não sendo um revolucionário, é um bom exemplo do homem livre, mesmo que agrilhoado. Ele vive o sonho, mesmo que o sonho seja um intervalo da mais dura e suja realidade.
Como já muitos disseram, A morte de um apostador chinês é um poema em forma de filme. Cada cena uma estrofe, dedicadamente escrita por Cassavetes e os seus actores: Gazzara, claro, mas também Seymour Cassel e Timothy Carey.
Gazzara talvez seja, no universo de Hollywood um actor menor, talvez tenhamos que utilizar certos filtros para o engrandecer - "o actor de Cassavetes", "um grande secundário" ou outras invenções - mas a mim basta-me um filtro, mesmo que o goste de encontrar noutros filmes, alguns dos quais indiquei acima: ele é Cosmo Vitelli, um tipo que tenho o maior gosto em conhecer. E que me sabe bem recordar.
Ben Gazzara morreu no dia 3 de Fevereiro de 2012.
Domingos Miguel
Houve Opening Night (Noite de estreia) e depois Roadhouse Blues (Profissão: Duro). Houve Bufallo '66, The Big Lebowski e Summer of Sam (Um Verão Escaldante). Houve Happiness e a segunda aparição de The Thomas Crown Affair. Houve Dogville e Paris Je t'aime.
Apesar de ter trabalhado com vários realizadores, Ben Gazzara ficará para sempre associado ao grande John Cassavetes. E é a este realizador que tenho a agradecer a felicidade de ter conhecido Cosmo Vitelli.
Em A morte de um apostador chinês, um filme a que regresso regularmente para reaprender a viver, Ben Gazzara está soberbo. Ele é um sobrevivente, ele é um entertainer. Ele é um homem que sabe que o espectáculo tem que continuar. Ele é um homem simultaneamente sozinho e gregário. Um homem que se movimenta entre a beleza do fugaz e ilusório e a frieza do real e perene.
Eu ainda não tinha nascido quando Ben Gazzara deu à luz Cosmo Vitelli. Nasceria alguns meses depois. Contudo, o filme só viria a estrear em Portugal, no 25 de Abril de 1997. Data apropriada. A morte de um apostador chinês é um filme libertário. E Cosmo, não sendo um revolucionário, é um bom exemplo do homem livre, mesmo que agrilhoado. Ele vive o sonho, mesmo que o sonho seja um intervalo da mais dura e suja realidade.
Como já muitos disseram, A morte de um apostador chinês é um poema em forma de filme. Cada cena uma estrofe, dedicadamente escrita por Cassavetes e os seus actores: Gazzara, claro, mas também Seymour Cassel e Timothy Carey.
Gazzara talvez seja, no universo de Hollywood um actor menor, talvez tenhamos que utilizar certos filtros para o engrandecer - "o actor de Cassavetes", "um grande secundário" ou outras invenções - mas a mim basta-me um filtro, mesmo que o goste de encontrar noutros filmes, alguns dos quais indiquei acima: ele é Cosmo Vitelli, um tipo que tenho o maior gosto em conhecer. E que me sabe bem recordar.
Ben Gazzara morreu no dia 3 de Fevereiro de 2012.
Domingos Miguel
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