Heróis Não Cantados: Stephen Frankfurt



Como qualquer boa história de sucesso e underdogs, o triunfo de Stephen Frankfurt em Hollywood inicia-se com um episódio de fracasso: com pouco mais de 20 anos e acabado de sair da faculdade o jovem Frankfurt (um incondicional apaixonado de cinema) dirigiu-se para a Califórnia, onde bateu à porta de todos os grandes e pequenos estudios de Hollywood, a propôr as suas ideias inovadoras e a oferecer os seus serviços, apenas para ver ambos negados.

Sem trabalho, partiu para Nova Iorque, onde rapidamente se transformou no mais próximo que se pode ser de um Don Drapper da vida real: um autêntico Mad Men de Madison Avenue. Jovem, bem parecido, moderno, implacável, rápido a executar, com uma capacidade criativa que parecia ilimitada e um toque de Midas para a venda de produtos, Frankfurt tornou-se na grande referência da publicidade Norte-Americana da década de Sessenta (o documentário da BBC de 1965: The Quiet Persuader continua a ser um documento seminal para qualquer um que se interesse por publicidade). Com o mundo a seus pés, e pelas mãos de Alan J. Pakula, Hollywood rendeu-se e chamou de volta um dos seus filhos pródigos.

Numa das suas incursões como produtor Pakula recrutou o jovem publicitário para conceber a sequência de abertura de Na Sombra e No Silêncio (1962), e se quando falamos de genéricos de abertura,pricipalmente na década de sessenta, é o nome de Saul Bass e as suas criações para Preminger e Hitchcock que nos salta imediatamente à cabeça, este primeiro trabalho de Frankfurt, ao contrário dos de Bass que em toda a sua espectacularidade está vincadamente preso a uma época e a um estilo que hoje é apenas replicado como prazer nostálgico, não só nos ajuda a entrar no universo literário infantil de Harper Lee, como demonsta logo à partida uma clareza moderna de discurso e uma simplicidade de ideias que o irá acompanhar durante toda a sua carreira. Um principio de Less-is-More que defendia, e confere aos seus trabalho o modernizmo intemporal que ainda hoje cria influências. (ninguém me tira da cabeça que também há muito do inicio de Escandalo na TV (1976) na fantástica abertura de A Toupeira (2011)).

Não se tratando de um Realizador, de um Produtor, ou mesmo de um Actor famoso, torna-se fácil esquecermo-nos da importancia que este homem de Madison Avenue teve na mudança das regras do Cinema Americano, onde acabou por ser uma peça determinante na passagem da Hollywood da Era Dourada para a geração seguinte de Coppolla, Scorcese, Spielberg e afins.

Ao trazer o seu conhecimento de publicidade para a 7ª arte, foi Frankfurt o primeiro a conceber que a promoção de um filme devia ser feita como um todo. Que poster (e que posters!), Trailer (vale a pena espreitar o seu trailer para Semente do Diabo) e outros materiais de promoção deviam ser parte integrante e determinante de qualquer lançamento. Que estes deviam estar ligados de forma quase simbiotica com o filme, contando ao mesmo tempo uma história por si só. Uma história capaz de prender o potencial espectador, de provocar e aguçar-lhe o apetie pelo produto muito antes do filme chegar às salas, ou seja, lançou aos poucos as sementes para esta era do Block Buster.

Numa época em que a promoção era feita principalmente pelo aguardar que um filme novo surgisse na sala de cinema habitual, pelo boca-a-boca e passa-a-palavra (como ainda se faz por cá com o nosso cinema...), Stephen Frankfurt ajudou a libertar a experiência cinematográfica da sua reclusão quase exclusiva das salas de projecção, alargando o seu debate para os moldes universais que conhecemos.

Hoje, perto de completar 81 anos, com um curriculum que se extende por quatro décadas e é demasiado vasto para que necessite de puxar galardões, as suas ideias e a sua influência está calmamente e progressivamente implementada na industria e um pouco em todos nós (ou não fosse ele o Quiet Persuader).

E entre genéricos de abertura agora clássicos ou posters intemporais, talvez o maior dos seus legados seja a definitiva implementação de Taglines na promoção de filmes (e como todos os pioneiros, é ele o responsável por alguns dos melhores que já foram escritos).

Se o conceito de Tagline não era exactamente uma novidade e já fora trabalhada, por exemplo, por Murnau, Wiene e os seus pares durante o Expressionismo Alemão, foi Frankfurt quem o tornou num hábito, e hoje parece-nos inconcebivel vermos um poster ou um filme sem pensarmos na pequena frase que condensa em si toda a vontade de ir ao cinema.

Como qualquer bom trabalho de um publicitário, dentro de alguns dias após a leitura deste texto é provável (e até normal) que já não se lembrem do nome desde senhor, mas uma coisa é certa: Dificilmente algum de nós se irá alguma vez esquecer que "No Espaço, Ninguém Nos Consegue Ouvir Gritar".

MS




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