óscares de ouro baço

Um ano de bons filmes coseu em lume brando. Sem chama, sem rasgo e assente num guião (admitindo que havia um) sem qualquer golpe de asa, a 83ª cerimónia dos Óscares teve o empolgamento de um jantar de empresa.

Ao que parece, hoje, para ser moderno, basta escrever no twitter ou facebook. E a obsessão alardeada por James Franco ainda nos induziu a pensar que a noite seria de “A Rede Social” – afinal, a quatro Óscares do fim, tinha três contra um de “O Discurso Do Rei”. Mas eis que, duma assentada, actor, realizador e filme coroaram o rei gago (sim. Em tempos, os discursos sérios versavam sobre a guerra, questões raciais, discriminação, doenças graves. Este ano, foi a gaguez).

Os Óscares não têm de ser imprevisíveis; têm de ser justos. E, desse ponto de vista, nem tudo foi mau. Muitos prémios foram da mais elementar justiça: os entregues aos actores, “Toy Story 3” ou Aaron Sorkin. No entanto, a Academia precisa de repensar a elegância de enxamear filmes com nomeações para depois os mandar embora de mãos a abanar. “Indomável” com dez nomeações, “127 Horas” com seis, “Despojos De Inverno” e “Os Miúdos Estão Bem” com quatro, saíram todos com zero distinções. O próprio “grande vencedor da noite” só arrecadou um terço dos prémios a que concorria.

Dito isto, acabou por ser Christopher Nolan a estrela da cerimónia. Ignorado na categoria da realização, sorria a cada um dos quatro Óscares recebidos pelo seu “A Origem”. Para quem nunca saiu dum discreto lugar da plateia, o porta-estandarte dos fazedores de sonhos esteve tremendamente em palco.

Não vale a pena contabilizar derrotados. Uma cerimónia com esta falta de brilho não parece ter autoridade para julgar o arrojo de “Cisne Negro” ou a crueza de “Despojos De Inverno”. No fim de contas, tudo bate certo: quando as melhores ideias que se tem para abrilhantar a noite são convidar Celine Dion para cantar “Smile” e um coro de crianças para falar da importância de sonhar, é natural que se considere “O Discurso Do Rei” o filme do ano.

AB

i. 2011.03.01 (versão curta)

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