rebelde sem causa. nem consequência


LEMBRA-TE DE MIM

De: Allen Coulter

Com: Robert Pattinson, Pierce Brosnan, Chris Cooper

Compreender a agenda das estreias em Portugal não é coisa para comuns mortais. Enquanto nos aguardam sete estreias por semana para os próximos 21 dias, à média de um filme a cada 24 horas, esta quinta-feira não nos são concedidas mais que três novidades. E não são três novidades quaisquer. É que, se vêm por aí Polanski, Resnais, Sam Mendes, Terry Gilliam, o oscarizado “Um Sonho Possível” e a segunda parte da trilogia Millenium, reservaram-nos para hoje três das mais bocejantes propostas do ano. E enquanto “Crazy Heart” vai directamente para dvd, apesar de ter recebido dois Óscares e de Jeff Bridges ser aclamado por onde passe, somos entretidos com um péssimo épico (“Solomon Kane”), um policial assim-assim (“Fora De Controlo”) e este “Lembra-te De Mim”, um drama bem intencionado, mas tão fraquinho, tão morninho, que, em vez de uma crítica, apetece fazer-lhe festinhas.

“Lembra-te De Mim” chega às salas por causa de Robert Pattinson. Porque se imagina que toda a miudagem devota de “Crepúsculo” vai correr para ver o seu herói. E faz sentido. “Lembra-te De Mim” não é menos adolescente que “Crepúsculo”, acha é que é mais sério. E, se bem conhecemos as lógicas tribais da adolescência, isso significa que, quem gostou de “Crepúsculo”, não pode gostar de “Lembra-te De Mim”. Um é para a menina, outro para o menino. Um é assumidamente comercial, o outro tem preocupações intelectuais e angústias morais.

O filme conta-nos isto: Tyler (Pattinson) é um jovem de uma família chique que colapse depois de o filho mais velho cometer suicídio. O pai (Pierce Brosnan) e a mãe (Lena Olin) separam-se e ficam só Tyler e a pequena Caroline (Ruby Jerins). O pai é um executivo rico, bem sucedido e terrivelmente frio; a mãe é tão mal retratada que não chegamos a perceber quem é; e os filhos lá andam, Caroline a ser, não se entende porquê, vítima de bullying na escola, e Tyler a passear um ar de rebelde sem causa, assistindo voluntariamente à faculdade e a dividir um apartamento manhoso com Aidan (Tate Ellington).

Aos primeiros minutos, é-nos explicado por uma aula que estamos a falar de ética e de moral. E “Lembra-te De Mim” tenta, de facto, seguir esse caminho, mas de modo tímido. Cheio de bons princípios, Tyler envolve-se numa rixa na rua e acaba a noite na cadeia. E a forma mais ética que encontra de se vingar do polícia (Chris Cooper) que o agrediu e prendeu, é seduzir-lhe a filha (Emilie de Ravin). A coisa dá rapidamente em amor e lá vai caminhando, aos tropeções, à margem daquilo de que o filme queria mesmo falar: da rebeldia de Tyler, da sua moral contra a ética reinante, da luta incerta contra a autoridade desumana personificada pelo pai e pelo sargento / sogro.

O problema é que, provavelmente, cada geração tem o James Dean que merece – e a verdade é que, desde o original, não temos sido muito abençoados. Pattinson até tem bons momentos e liberta-se da figura de vampiro, mas não do olhar inexpressivo de carneiro mal morto. E, depois, em vez de Elia Kazan ou Nicholas Ray, está entregue a um realizador de televisão e a um argumentista estreante. Há algumas boas piadas, uma ou outra ideia forte e, pela banda sonora, percebe-se que é malta de bom gosto, mas falta o know-how – ou, num elegante equivalente nacional, o traquejo.

Prova da insegurança que o mina, “Lembra-te De Mim” não se consegue decidir por um assunto e escolhe ser também uma homenagem a Nova Iorque. Mas, em relação a isso, não há drama: a cidade tem as costas largas. Pior ficamos nós, uma semana sem um filminho que entusiasme.

O melhor é apostar no dvd. E rever o “Fúria De Viver”.

AB

i, 2010.03.18

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