e agora para algo completamente idiota


JANTAR DE IDIOTAS

De: Jay Roach

Com: Steve Carell, Paul Rudd, Jemaine Clement

Um grupo de altos quadros duma grande empresa tem um hobby peculiar: onde outros jogam golfe ou paintball, estes yuppies bem sucedidos organizam um jantar mensal onde cada um deve trazer um acompanhante completamente idiota. No fim da noite, é atribuído um galardão ao idiota da noite. Agora, Tim (Paul Rudd), um jovem executivo que quer subir depressa na vida, é convidado e tem um dia para encontrar o maior idiota do mundo. Um que divirta o chefe e lhe garanta uma promoção.

Normalmente, as comédias têm um leitmotiv imediatamente humorístico que convida o público a assistir, mas “Jantar De Idiotas” sofre deste pecado original: ter um ponto de partida de graça muito discutível e ética razoavelmente censurável. O filme encurrala-se desde o início: em vez de extrair o melhor da sua ideia, tem de livrar-se rápida e convincentemente dela.

Remake de “Le Dîner De Cons”, filme de Francis Veber que, em 1998, só foi batido nas bilheteiras francesas por “Titanic”, “Jantar De Idiotas” tem sido incapaz de repetir o sucesso na versão americana. Talvez porque, por uma vez, Steve Carell não seja suficiente para salvar um filme.

Apesar do elenco bem apetrechado (Paul Rudd, de “Friends”, Jemaine Clement, de “The Flight Of The Conchords”, Zach Galifianakis, de “A Ressaca”), “Jantar De Idiotas” é uma imensa desculpa montada em torno do talento de Steve Carell. E como ele só entra em cena aos vinte minutos, o filme arrasta-se penosamente até lá, sem despertar interessar pela história, simpatia pelas personagens, sem motivar um único sorriso. O público que esteve a olhar para o relógio e a pensar “Então, quando é que aparece o Steve Carell”?, suspira de alivio ao vê-lo, mas, depois, sente que não há vontade de fazer aquele filme em particular; apenas a de produzir mais uma comédia com Steve Carell. De preferência, uma onde a personagem lhe permita toda a espécie de palhaçada.

E a personagem, de facto, permite tudo. Carell é Barry, um tipo que acumula a carreira de funcionário das finanças com a de taxidermista obcecado por ratos, mais a de idiota, mais a de marido abandonado por uma mulher que o trocou pelo superior hierárquico. As composições que faz com ratos empalhados, vestidos, adereçados e colocados em diferentes cenários, imitando quadros e personagens célebres, roubam o filme e, por vezes, pensamos se queremos mesmo saber do resto ou senão preferiríamos ficar por ali, a ver mais ratos vestidos de Mona Lisa ou de Jesus Cristo e os apóstolos na Última Ceia.

Barry está ali a pedir para ir parar ao jantar de idiotas e o filme faz-lhe a vontade: Tim atropela-o por acidente e é assim, com esta originalidade de fazer corar uma banda de versões dos Abba, que se dá o encontro entre o tipo que procura desesperadamente um idiota e o idiota propriamente dito.

O acontecimento que dá nome ao filme é, na verdade, retardado o mais possível, enchendo-se até lá a narrativa de pequenos gags de comédia de enganos, problemas sentimentais das personagens e afins, tudo minado pela idiotia de Barry. Quando, por fim, chegamos à longa sequência do jantar, os criadores sentem-se livres para renegar tudo o que andaram a vender. Afinal, os idiotas são seres humanos como os outros e não é bonito fazer troça deles, muito menos tentar subir na vida à custa da pobreza de espírito dos outros.

Evidentemente, nenhum espectador lúcido compra isto. Afinal, quem esteve a tentar ganhar dinheiro à custa dos idiotas foram os próprios produtores do filme; e quem, eventualmente, se riu deles, foi o público.

As comédias ligeiras já perdiam esta mania de tentar dar lições de moral.

AB

i, 2010.09.09

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