a quinta das celebridades (e alguns porcos amestrados)
NANNY MCPHEE E O TOQUE DE MAGIA
De: Susanna White
Com: Maggie Gyllenhaal, Emma Thompson, Ralph Fiennes
Queria começar por falar de Ewan McGregor. O grande Ewan McGregor, um dos raríssimos casos em que não nos importamos de ouvir as mulheres suspirar (muito possivelmente porque não tem a musculatura dum action-man nem o look bad boy que, sabe-se lá porquê, desassossega meninas de coro há milénios). O Ewan McGregor de “Trainspotting”, “Velvet Goldmine”, “O Grande Peixe”, “Moulin Rouge”, “Black Hawk Down”, etc, que anda reduzido, nos últimos tempos, a ser sidekick de George Clooney em “Homens Que Matam Cabras Só Com O Olhar”, Jim Carrey em “Eu amo-te, Phillip Morris” e, agora, ainda mais grave, a pouco mais de banal figurante nos instantes finais de “Nanny McPhee E O Toque De Magia”. Ewan, se nos estás a ler, tu atina, rapaz. Daqui a dias, vamos ver-te em “The Ghost Writer”, o último de Polanski – ainda há esperança.
São os actores o tópico de conversa mais interessante a partir de “Nanny McPhee E O Toque De Magia”, porque estão lá alguns dos melhores do momento, com aquela descontracção de jogador da bola que faz uma perninha num jogo de solidariedade, a convite dum amigo com uma fundação. O amigo aqui é Emma Thompson, a argumentista / produtora / co-protagonista do filme, e os jogadores são Maggie Gyllenhaal, Ralph Fiennes, Rhys Ifans e o citado McGregor.
Gyllenhaal é a menina que, quando apareceu, era só a irmã de Jake; depois, era a mulher de Peter Sarsgaard; hoje, é a estrela maior da família. É o portento que rouba todas as cenas de “Um Lugar Para Viver”, de “Happy Endings”, de “Batman – O Cavaleiro Das Trevas”, de todos os filmes em que entra – e mal podemos esperar por “Crazy Heart”, num dvd perto de si, lá para o mês que vem. Neste segundo “Nanny McPhee” é a dona da quinta desesperada, que sofre com o marido na guerra, o cunhado que lhe quer roubar a propriedade, a educação das três crianças e os dois sobrinhos ricos e embirrentos que lá vão parar.
Fiennes é Fiennes. Às tantas, teve um irmão mais novo que ainda lhe roubou umas capas de revista, mas, depois, desapareceu. Fiennes é outro tipo por quem as mulheres suspiram legitimamente; um Sean Connery enquanto novo; um actor que, de vez em quando, até se dá ao luxo de aterrar em filmes lamacentos, só para reluzir ainda mais. Aqui, é o irmão austero de Gyllenhaal, pai dos miúdos petulantes e militar muito bem colocado no Ministério da Guerra.
E Rhys Ifans é um daqueles actores do camandro a quem a malta insiste em injustiçar e não decorar o nome. Foi o amigo pateta de Hugh Grant em “Notting Hill” e o deus sexual de “O Barco Do Rock”; o sóbrio actor dramático de “Greenberg” e “Os Informadores” e agora, neste “Nanny McPhee”, é o vilão inofensivo que quer roubar a quinta de Gyllenhaal, mas leva porrada de mulheres e crianças.
À parte os actores, que há para dizer de “Nanny McPhee E O Toque De Magia”? Nada de muito sério. Cumpre todos os objectivos da comédia familiar: bom coração, bom texto, boas piadas, ritmo ligeiro, final feliz. Ou seja, é interdito a maiores de idade sem filhos ou sobrinhos. Arquitectado entre cinco lições de moral, tem a ama / bruxa aos comandos de uma aventura na quinta, com truques de magia e porcos que fazem natação sincronizada. Fala de solidariedade, do valor da família, da vacuidade dos preconceitos. E tem aquele detalhe que muito filme estrangeiro tem, mas que, em Portugal, parece coisa de outro planeta: crianças que sabem representar. Que não devem ser filhos nem netos de nenhum membro da equipa técnica nem foram os primeiros a responder ao casting. Manias destes anglo-saxónicos: ser profissionais – aonde é que já se viu?
AB
i, 2010.06.10
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