vampiros sub-16 (acompanha com clearasil)


LUA NOVA

De: Chris Weitz

Com: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner

Todo o leitor já o terá sentido: ao longo da vida, houve filmes a que assistimos em que percebemos, na hora, que teríamos de os rever mais tarde para os compreender. Ainda não eram para nós. Exigiam um espectador mais maduro. Tudo bem. Voltámos a eles e percebemo-los, ou havemos de o fazer Depois, há os filmes de animação, alegadamente destinados às crianças, mas em que acabamos a vibrar mais que o nosso sobrinho de 10 anos, sentado ao lado, a mastigar pipocas dolentemente. E, por fim, há isto, este “Lua Nova”, esta saga – meu Deus, como esta palavra caiu na moda e irrita – “Twilight”, e a sua experiência revolucionária. Sim, leitor, pela primeira vez, um filme fez-me sentir terrivelmente velho e grato por isso. “Lua Nova” não é para adultos, também não é para redescobrirmos a criança que há em nós, blá, blá, blá, e tal. É sobre qualquer coisa que já não somos (se é que alguma vez fomos) e ainda bem. Obrigado, leis da vida, por estes cabelos brancos, este princípio de calvície e este cérebro a começar a dar sinais de cansaço. Obrigado, biologia, enfim, por nos termos livrado da adolescência.

Em rigor, “Lua Nova” nem sequer é um filme para adolescentes. É mais redutor que isso. É uma fantasia feminina adolescente. Não é para meninos. É para meninas, meninas que, daqui por três ou quatro anos, o estarão a renegar. Nada mais. É um conto tonto onde se fala de músculos, motas, provas de virilidade e se pede um tempo nas relações. É imberbe, borbulhento e leve. Tão leve que faz pena.

Desconfie sempre – repita comigo: sempre – dos fenómenos de massas. Não é que não haja, de quando em quando, uma obra realmente capaz de agradar a todos, de tocar os mais e os menos exigentes – “Casablanca”, “O Padrinho”, “A Guerra Das Estrelas”, etc. Mas o génio não foi distribuído equitativamente pela espécie humana. Só acontece de tempos a tempos e não uma vez por mês, como as campanhas publicitárias tentam fazer crer. “Lua Nova” é uma coisa para adolescentes pouco exigentes e torna-se um sucesso de bilheteira porque, em toda a parte, quem mais vai ao cinema são os adolescentes. Só isso. Nada mais.

A história de uma miúda humana que se apaixona por um vampiro é mais velha que a Sé de Braga. A partir daqui, “Lua Nova” acrescenta zero à iconografia dos vampiros. Eles vivem para sempre, alimentam-se de sangue humano e, se quiserem muito, podem transformar-nos também em sanguessugas imortais. A partir daqui, o vampiro vai-se embora porque a ama muito, mas não a quer fazer sofrer, ela tenta distrair-se com outro rapaz, mas – isto é que uma rapariga azarada – o rapaz em questão é, na verdade, um lobisomem – e o vampiro lá volta para amá-la muito porque ela é tudo aquilo de que ele precisa e coiso e tal. As personagens não existem, pura e simplesmente. Não têm personalidade. Movem-se para aqui e para ali e ponto final. Têm um único objectivo que é estarem juntas e os obstáculos à consumação desse objectivo são baixinhos e colocados lá artificialmente e não por razões intrínsecas ao – força de expressão – drama. Em todas as cenas, arranja-se maneira de pôr um rapaz com abdominais hiper-desenvolvidos em tronco nu. E tudo é constrangedoramente vazio, acéfalo, inútil.

Salva-se Michael Sheen (“A Rainha”, “Frost / Nixon”), um excelente actor que vai ali parar, não se sabe como, a três ou quatro minutos de filme, a conter, hilariantemente, a sede, enquanto fala com a jovem humana.

Em relação aos restantes, gostaria de lhes recomendar que fossem dar sangue. Mas já estão a preparar o próximo filme para 2010. E vão insistir em mostrá-lo às pessoas.

AB

i, 2009.11.26

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