Wong Kar Wai
Ao receber pelo correio o blu-ray do filme de Wong Kar Wai que me permite agora ter a sua filmografia completa (trata-se de Ashes of Time - Redux), dou por mim a pensar como foi que Wong Kar Wai se tornou um dos meus realizadores preferidos. Creio que teria que recuar até à estreia de 2046 em Portugal, apesar de dele, nessa altura, já ter visto Chunking Express e Disponível para Amar, que, no entanto, só me começaram a afectar quando os revi depois de 2046. Sempre ele. Esse filme de Wong Kar Wai sobrevoa-me. Passam-se poucas semanas em que não pense nele, não recorde uma cena ou imagine uma que poderia muito bem ter integrado o filme. Foi ele que me levou a rever o Disponível para Amar e a descobrir Days of Being Wild e, a partir daí toda a obra de Wong Kar Wai desde As Tears Go By até My Blueberry Nights.
Mas se quiser ensaiar uma reflexão deste meu enamoramento com o realizador chinês tenho que ir mais atrás na minha vida e até ao Japão. Para mim foi Hana-bi (Fogo de Artíficio), de Takeshi Kitano, quem me abriu as portas do moderno cinema oriental, numa altura em que para mim esse rótulo metia tudo no mesmo saco, menos Kurosawa. Esse sincretismo não foi mau, pois permtiu-me saltar de cinema em cinema, de país em país, no extremo-oriente. Essencialmente, diga-se, entre a China e o Japão, apesar da cinemateca me ter permitido apanhar filmes de outras proveniências.
Hana-bi foi, para mim, um filme-choque, não tanto pela intriga (que pode ser chocante) mas pela realização e protagonização de Takeshi Kitano. Passou a haver um sabor oriental (que, aliás, seria confirmado por outros filmes de Kitano, como o Dolls) no meu cinema. Mas foi só com 2046 que pensei para comigo que tinha finalmente encontrado um filme-companheiro, daqueles que podemos trazer connosco, como nosso.
Depois disso, claro, já consegui ganhar alguma capacidade de discernir as cinematografias orientais, enterrando rótulos e apurando experiências e reflexões, mas continuo agradecido a Takeshi Kitano.
Regressando a Wong Kar Wai mas utilizando o paralelismo com Kitano, creio que posso explicar o meu apreço pelo realizador chinês dizendo que quase todos os seus filmes continuam a povoar a minha mente, sobretudo as ambiências e algumas tiradas verbais, como se houvesse uma caligrafia imaterial que Wai manejasse através da sua realização. Happy Together e a sua Buenos Aires, por exemplo. Mas também Ao sabor da ambição (As Tears Go By). O ambiente, que sempre me cheirou a Blade Runner, de Chunking Express, agora acompanhado por Fallen Angels. Mesmo My Blueberry Nights, o seu filme que menos me impressionou, conseguiu cravar em mim certos momentos, como o desempenho de Rachel Weisz.
Fragmentação, romantismo, movimento, charme, solidão/união, eis o que associo e me associa a Wong Kar Wai. Para mim, também, o realizador das saudades do futuro, que teria sido muito amigo de Pessoa, e que não se nega ao embate contínuo, quase tectónico, entre passado e futuro, tornando assim a nossa experiência dele um campo de batalha sempre presente mas fugidio, onírico, por vezes ansioso, por vezes opiáceo.
DM
Mas se quiser ensaiar uma reflexão deste meu enamoramento com o realizador chinês tenho que ir mais atrás na minha vida e até ao Japão. Para mim foi Hana-bi (Fogo de Artíficio), de Takeshi Kitano, quem me abriu as portas do moderno cinema oriental, numa altura em que para mim esse rótulo metia tudo no mesmo saco, menos Kurosawa. Esse sincretismo não foi mau, pois permtiu-me saltar de cinema em cinema, de país em país, no extremo-oriente. Essencialmente, diga-se, entre a China e o Japão, apesar da cinemateca me ter permitido apanhar filmes de outras proveniências.
Hana-bi foi, para mim, um filme-choque, não tanto pela intriga (que pode ser chocante) mas pela realização e protagonização de Takeshi Kitano. Passou a haver um sabor oriental (que, aliás, seria confirmado por outros filmes de Kitano, como o Dolls) no meu cinema. Mas foi só com 2046 que pensei para comigo que tinha finalmente encontrado um filme-companheiro, daqueles que podemos trazer connosco, como nosso.
Depois disso, claro, já consegui ganhar alguma capacidade de discernir as cinematografias orientais, enterrando rótulos e apurando experiências e reflexões, mas continuo agradecido a Takeshi Kitano.
Regressando a Wong Kar Wai mas utilizando o paralelismo com Kitano, creio que posso explicar o meu apreço pelo realizador chinês dizendo que quase todos os seus filmes continuam a povoar a minha mente, sobretudo as ambiências e algumas tiradas verbais, como se houvesse uma caligrafia imaterial que Wai manejasse através da sua realização. Happy Together e a sua Buenos Aires, por exemplo. Mas também Ao sabor da ambição (As Tears Go By). O ambiente, que sempre me cheirou a Blade Runner, de Chunking Express, agora acompanhado por Fallen Angels. Mesmo My Blueberry Nights, o seu filme que menos me impressionou, conseguiu cravar em mim certos momentos, como o desempenho de Rachel Weisz.
Fragmentação, romantismo, movimento, charme, solidão/união, eis o que associo e me associa a Wong Kar Wai. Para mim, também, o realizador das saudades do futuro, que teria sido muito amigo de Pessoa, e que não se nega ao embate contínuo, quase tectónico, entre passado e futuro, tornando assim a nossa experiência dele um campo de batalha sempre presente mas fugidio, onírico, por vezes ansioso, por vezes opiáceo.
DM
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Abraço!