Bénard "cinema" da Costa

Confesso que gosto de personalidades incontornáveis. Daquelas que vencem a nossa própria opinião. Explico: quando há uns anos houve que discutir a recondução especial de Bénard da Costa, na direcção da Cinemateca, fui dos que entendi que não vinha mal ao mundo em haver sangue novo, novas visões, novos projectos. Esta opinião não se deveu tanto a não gostar ou discordar das opções de Bénard da Costa à frente da Cinemateca mas muito mais por, em princípio, discordar de soluções prolongadas à frente de cargos públicos. Dito isto, a minha admiração por Bénard não podia ser maior, mesmo quando não concordava com as suas opções. Até porque, Bénard da Costa não negava nada que tivesse que ver com o cinema. Prova disso, de que quero aqui fazer nota pública, foi a forma como acolheu um bando de desconhecidos, autores de um blog intitulado Noite Americana, quando, em dado momento, dirigiram à Cinemateca uma carta solicitando a possibilidade de passar um filme na esplanada, resultado de votação online. Bénard acolheu a ideia em poucos dias e assim passámos Blade Runner. Esta pequena história serve bem para ilustrar a ideia de serviço público, que eu espero que a Cinemateca mantenha, mas não serve para descrever na sua totalidade o contributo inestimável de Bénard da Costa para a divulgação do cinema em Portugal. Felizmente, há, pelo menos, duas gerações, que são disso testemunho e creio que não haverá melhor testamento do que esse. Cada um poderá recordar de Bénard, tendo tido acesso aos seus textos, aos seus filmes, à sua Cinemateca, o que preferir. Eu tenho uma memória que me acompanhará para sempre, por todas as razões e mais algumas: a programação dos 100 dias, 100 filmes de Lisboa 94, Capital da Cultura. Para mim, o Tivoli e a Cinemateca tornaram-se, durante alguns meses, o centro do mundo e posso dizer que, quase todo o cinema que importava ver o vi nesse ano. Bénard da Costa não terá tido toda a responsabilidade pelo evento mas a forma como a Cinemateca sempre esteve disponível para todos momentos culturais do país e para todas as colaborações que divulgassem o cinema e artes afins espelha bem o que acho ser o legado de Bénard. Por isso lhe agradeço, por isso o recordarei.

DM

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