o testamento do sr. eastwood
Um tipo assiste a Gran Torino e maldiz a hora em que perdeu mais uma madrugada a ver os Óscares. Podemos tentar acreditar na bondade da Academia, no sentido comercial das distribuidoras, mas, quando vemos mais uma pérola de Clint Eastwood chegar às salas a meio de Março, no fim da festa de endeusamento de Kate Winslet e do encontro de irmãos holly-bollywoodiano de Slumdog Millionaire, só temos uma palavra a dizer: gaita.
Seja ou não o último trabalho de actor do senhor Eastwood, este é, em boa verdade, o seu testamento. A confissão de um conservador com a bandeira americana plantada no alpendre, capaz de vencer o preconceito e apaixonar-se pelos vizinhos asiáticos. Gran Torino é Clint a assumir a velhice, a dificuldade em compreender a geração seguinte (veja-se a cena breve em que Walt, a sua personagem, desanca o jovem Trey, interpretado pelo seu filho, Scott Eastwood); é Clint a olhar a morte nos olhos e a dizer, com todas as letras, que morrerá em paz.
Este pequeno-filme-com-tudo-dentro é ainda uma lição especial: aprende a ser homem com Clint Eastwood em apenas duas horas. Precisas duma mulher, um trabalho, um carro e uma caixa de ferramentas. Também podes ter uma arma, mas este Clint já não é Dirty Harry. Harry, no final, só confiaria em si e resolveria o assunto pelas próprias mãos; Walt – e é difícil não nos comovermos com isto – oferece-se em sacrifício para que seja a sociedade a fazer justiça.
AB
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Um abraço e abaixo deixo a minha humilde perspectiva.
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