O visitante
para o João
DM
(publicado no Meia Hora de quinta-feira passada)
Eu tinha-o visto uma vez. Um fim-de-semana, no Porto, onde o tinha conhecido. Quando ele veio a Lisboa ofereci-lhe guarida. Mas com as vidas trocadas só o vi quando já estava quase de partida. Encontrámo-nos para um jantar e copos no Bairro Alto. Se não me falha a memória, fomos à minha muito querida Adega do Tagarro. E, nessa noite, fartámo-nos de conversar, ele contou-me a razão da sua vinda a Lisboa, uma história de amor, apaixonada, sofrida, intensa. Mesmo levando em consideração que é sempre mais fácil falar com estranhos, nunca deixo de me comover com pessoas que em mim confidenciam. A partir daquele momento podíamos tornar-nos grandes amigos, podíamos nunca mais nos ver mas haveria aquele momento, esse encontro. Mas ainda houve mais. Na manhã seguinte, quando de raspão nos despedimos: eu a ir para o trabalho, ele a regressar ao Porto, ofereceu-me um presente de hospedagem, chamemos-lhe assim: um álbum de Fela Kuti, Open/Close. Isto já foi há uns anos valentes.
Agora, há umas semanas, ao ver a apresentação de O Visitante, vejo, a certa altura, esse mesmo álbum, de Fela Kuti, que se tornou, com os anos, uma delícia para mim, a ser entregue por uma das personagens a outra. Mas essa coincidência não foi nada comparada com o simbolismo que tal álbum assume no filme, que só esta semana vi e agora vos recomendo. Muito. O filme de Thomas McCharthy, conta com o excelente Richard Jenkins, num papel contido de fragilidade e procura. Mas também com um trio magnífico, composto por Haaz Sleiman, Danai Jekesai Gurira e Hiam Abass, respectivamente como Tarek, Zainab e Mouna, a família onde o professor Walter Vale se redescobre enquanto – é preciso sublinhar isto – ser humano. E aqui no meio, Fela Kuti, surge como gesto de reconhecimento mas, sobretudo, como um gesto enriquecimento: tal como, há uns anos, o João, agradecendo-me, me abriu as portas para o maravilhoso mundo de Fela Kuti, também Tarek, ao agradecer a Thomas, com esse mesmo álbum, viria a dar-lhe um novo rumo. A não perder.
Agora, há umas semanas, ao ver a apresentação de O Visitante, vejo, a certa altura, esse mesmo álbum, de Fela Kuti, que se tornou, com os anos, uma delícia para mim, a ser entregue por uma das personagens a outra. Mas essa coincidência não foi nada comparada com o simbolismo que tal álbum assume no filme, que só esta semana vi e agora vos recomendo. Muito. O filme de Thomas McCharthy, conta com o excelente Richard Jenkins, num papel contido de fragilidade e procura. Mas também com um trio magnífico, composto por Haaz Sleiman, Danai Jekesai Gurira e Hiam Abass, respectivamente como Tarek, Zainab e Mouna, a família onde o professor Walter Vale se redescobre enquanto – é preciso sublinhar isto – ser humano. E aqui no meio, Fela Kuti, surge como gesto de reconhecimento mas, sobretudo, como um gesto enriquecimento: tal como, há uns anos, o João, agradecendo-me, me abriu as portas para o maravilhoso mundo de Fela Kuti, também Tarek, ao agradecer a Thomas, com esse mesmo álbum, viria a dar-lhe um novo rumo. A não perder.
DM
(publicado no Meia Hora de quinta-feira passada)
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